quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Contratempos no Trânsito.

Era uma manhã comum, num engarrafamento comum, com um Cidadão Comum. Nosso herói estava atrasado para o trabalho, e como desgraça pouca não tem graça, aquele era um daqueles dias de reunião EXTREMAMENTE IMPORTANTE PARA O FUTURO DA EMPRESA, ou coisa que o valha. Claro que justamente neste dia o trânsito tinha que estar mais lento que jabuti, além do que o carro imediatamente a sua frente estava mais lento que lesma, chegou a demorar cinco minutos para sair no sinal verde da ultima vez, quase nosso amigo ficava parado de novo.

Seguindo a passo lento outro sinal vermelho. O Sol já estava quente aquela hora, o rádio tava quebrado e o cheiro de cano de descarga perfumava o ar. Enfim veio o sinal verde. Porém. Nenhum movimento no carro da frente.

Educado o cidadão comum deu um suspiro “Ai Meu Deus hoje vai ser um dia daqueles”, e como seria, conjuntamente com uma educada buzinada dupla. Nada. O sujeito na frente só podia ter dormido no transito. Mais uma buzinada dupla, dessa vez mais prolongada, pra ver se o cara se mancava de vez. Ainda nada. O Cidadão Comum, se remexeu desconfortável, coçou a nuca de mais uma vez buzinada, agora acompanhado de um levemente irritado “Amigo acorda aí!”. Nada de novo.

Claro que o pessoal atrás já tava puto, o sinal ficara vermelho de novo. E lá ficou o cidadão comum dando compulsivas olhadelas no relógio. Sinal verde e nem sinal de movimento.

PAAAAAAAAAAAAMMMMMMMMMMM!!!!!!!!!!!!!!!!!!

“Anda aí cacete!”, dessa vez decidiu o Cidadão Comum por um tom mais ameaçador, porém nada, o cara na frente não se mancava de jeito nenhum. Nova buzinada, prolongada e irritante acompanhada do bom e velho. “Não me faça ir aí!”. Ameaçador, mas ineficaz, o carro não se mexia. Muito puto, nosso companheiro respirou fundo, olhou o relógio e por algum motivo que mais tarde ele não soube explicar, conferiu se a braguilha estava devidamente fechada.

Saiu do carro, bateu porta com violência, fez cara de macho e encostou na janela do carro da frente. “Afinal de contas qual é o teu problema ?!”,começou ele cheio da razão, até ele identificar qual o problema do sujeito. Estava morto. Da Silva, era o nome escrito no crachá do defunto. Sabe-se lá o motivo causa ou circunstância.

Claro que nosso amigo chegou atrasado no trabalho, a reunião já fora, e seu chefe adentrou sua sala soprando fogo pelas ventas. “Mas eu não lhe falei a importância dessa reunião?”, acuado e meio que gaguejando ele contou sua história. Ao terminar rolou aquele minutinho de silêncio tenso. “E o senhor de fato crê que eu vou acreditar em tamanho besteirol? Essa foi a pior desculpa que eu já ouvi. Vou descontar essa horas do seu salário.”, infeliz e sem saída o cidadão comum aceitou.

“Bem, agora vou ter que sair.”, disse o chefe, “Não devo voltar por hoje. Minha mãe ligou, meu Tio Da Silva sofreu um infarto no trânsito, também como todo aquele stress da manhã”.

Sem saber se gritava, quebrava alguma coisa ou simplesmente tomava um copo d’água, o Cidadão Comum sentou em sua cadeira. Decidiu por fim jogar uma partida de Paciência.

sábado, 8 de agosto de 2009

Um Conto Civilizado - Parte 3

O cidadão comum em: Visita Religiosa.

Nosso amigo o cidadão comum, também conhecido por brasileiro médio, não tinha nenhuma religião específica, apesar disso possuía lá nos antigamentes da sua vida, um que de raízes católicas. Apesar disso, constantemente recebia visitas religiosas, e essas eram as mais variadas, sempre eram pessoas com Bíblias nos braços e folhetinhos nas mãos, vinham com gestos delicados e voz educada, e pediam para entrar. O cidadão comum, porém não tinha lá muita paciência para essas coisas, embora afirmasse a plena pulmões que respeitava todas as religiões, e respeitava mesmo, são não gostava de nenhuma delas, por isso sempre agradecia, negava a entrava, dizia uma das desculpas que guardava no estoque, e volte sempre. Daí ele voltava para a sala, tirava a blusa, abria uma cerveja e ia ver a Fórmula 1, afinal de contas era domingo, a mulher tava na missa e ele em paz.

Porém certo dia, houve uma visita inesperada, estava ali o cidadão comum brasileiro médio, em seu domingo e em seu sofá, com sua cerveja e sua Fórmula 1, quando veio as batidas de palmas, resmungou alguma coisa irritada, não que estivesse irritado de verdade, mas achava que um dos requisitos mais sagrados das visitas religiosas era: visitante alegre, visitado irritado. Quando desceu ao portão teve sua primeira surpresa, o cara ali na frente usava uma blusa de Nossa Senhora, o que soou estranho, assim que chegou mais perto o visitante perguntou se ele era católico, resposta afirmativa, mais para termos de estatística do IBGE. Em seguida o visitante se apresentou como sendo da entidade católica fulana de tal, vinculada a CNBB, que fazia algum trabalho de assistência social e alguma coisa relacionada a um padre famoso e perguntou se poderia entrar e...

_ Peraí, o senhor é da igreja católica? – perguntou o cidadão comum.

_ Sim, assim como o senhor. – respondeu o visitante.

_ Bem, é que vem muito evangélico me visitar sabe, nunca tinha recebido um católico.

_ É verdade, nós estamos agora querendo mudar um pouco, se aproximar dos fieis e...

_ Mas é que, eu não costumo deixar os evangélicos entrarem sabe.

_ Compreendo perfeitamente, mas sendo eu católico...

_ Além do que eu respeito todas as religiões sabe, sem distinção.

_ Acho que agora não entendo onde o senhor quer chegar.

_ Então não posso deixar o senhor entrar, muito obrigado e bom domingo.

E o cidadão comum voltou para dentro de casa. Sentado em seu sofá, depois do primeiro gole de cerveja ele pensou que no final das contas ele havia privilegiado o católico, afinal das contas ele não tinha mentido dessa vez. Bebeu mais um pouco e começou pensar onde ia almoçar naquele domingo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Especial 6 de Agosto. *

Zeca e Joca na Revolução: Cortando a corrente.

Lá estavam nossos heróicos homens, descalços e desarmados, o rio era bem ali, mas eles ainda não imaginavam o que era para fazer, quando chegou o bom capitão.

_ Meus caros serin... quer dizer, soldados. – começou em tom pomposo. – Logo ali está o rio e também a corrente, como vocês todos sabem. Nossos barcos com mantimentos não chegam, então só podemos fazer uma coisa, serrar a corrente. Para isso vocês irão mergulhar no fundo desse rio com essas serras que vamos lhes dar, mergulhem e cortem.

Joca, que não tinha gostado nenhum pingo dessa idéia resolveu externar com seu bom e velho companheiro, Zeca.

_ ô Zeca, tu também não ta achando que a gente vai acabar se fudendo com essa arrumação.

_ Pra falar a verdade até acho, o Joca. Mas se a gente não vai ele fuzila a gente. Então é melhor ir logo.

Mas Joca não muito satisfeito com a explicação de Zeca resolveu se manifestar.

_ Ô meu capitão. Isso aí num vai ser muito perigoso não?

_ Olha até vai. Mas a idéia vale a muito a pena não sabe. Já faz três dias que não há enlatados, não há balas, não há fumo, sem falar que o papel higiênico não vai durar para sempre, não se pode guerrear decentemente sem eles, isso sem falar no papel de carta, temos que trocar cartas com nossos inimigos, é de bom tom.

_ Ta, mas e o senhor, vai fazer o que, cortar com nois?

_ É mas claro que não! Quer dizer... hum... vou dar cobertura.

_ Daqui de cima?

_ Daqui de cima, de onde mais?

_ E cobertura contra o que hein?

_ Ora seu Joca, contra os tiros dos bolivianos.

_ Então, deixa ver se entendi, a gente vai mergulhar no fundo do rio, carregando serras pra cortar uma corrente absurdamente grossa, e ainda vamo ter que fazer isso debaixo de bala?

_ Exato. – falou o capitão, já pensando que teria que fuzilar alguém hoje.

_ É. Num é que é uma boa idéia. Vamo nessa cambada.

E lá se foram nossos bravos heróis com serras em vez de armas nas mãos.


Gildson Góes.
*texto repleto de imprecisões e inverdades históricas.