domingo, 5 de junho de 2011

Enquanto isso numa realidade não tão distante... (uma crônica)

O ano é 20xx, depois de uma série de revoluções pacíficas, algumas armadas, greves sindicais, passeatas nas ruas e uma série de épicos twittaços, foi a aprovada a lei a PLC n° 24.567 que proibiu terminantemente os abusos de chefes para com seus funcionários. As penas iam de pagamento de multa em caso de alteração no tom de voz até cinco anos de prisão no caso de café jogado na camisa.

Foi uma festa para os trabalhadores, por muito tempo, isso foi bom. Porém o excesso de stress que a vida moderna causa àqueles de alto cargo somado a falta de um bucha em quem descontar as frustrações cotidianas acabou causando um série de suicídios em massa como nunca se viu na história desse país. Os nervos estavam a flor da pele, os altos executivos, secretários e até mesmo político não sabiam mais o que fazer, em quem descontar, nos filhos não podiam, a lei deles já fora aprovada muito tempo antes.

A situação era grave, urgia uma medida. Foi quando surgiu a grande idéia, crie-se um cargo para isso: Aguentador de Abuso, uma pessoa que não pudesse dizer: "não sou pago pra aguentar isso", por que ele seria pago justamente para aguentar isso. Era genial, uns disseram.

Mas não há dinheiro pra criar novos cargos disse o setor público, não importa, é simples, cortamos do setor de comunicação. Assim se fez, e muitos assessores de imprensa foram demitidos e mais tarde readmitidos como Aguentadores de Abuso, porque afinal é preciso se alimentar.

Cursos foram criado para suprir a demanda, o mercado era grande, todo chefe queria no mínimo dois aguentadores de abuso, foi um sucesso a nova profissão. O trabalho era complicado, as vezes, alguém ia parar no hospital, formaram-se sindicatos, queriam a insalubridade ou até mesmo periculosidade, por que a barra naquele serviço era pesada.

Graças a essa reivindicações não atendidas acabou estourando a greve dos aguentadores de abuso que culminou com uma grande passeata através das ruas da capital. Infelizmente, a passeata foi interceptada por uma força policial, que não economizaram no abuso de poder.

O resultado foi pra lá de quinhentos mortos na avenida, sendo uma das maiores tragédias já registradas no local desde as guerras de rua entre rockeiros old school e os rockeiros coloridos acontecidas anos atrás. A comoção social pelos mortos durante a passeata foi tão grande quem é uma supreendentemente rápida votação no Congresso, demorou apenas três ano pra votarem, aprovaram a periculosidade para aguentadores de abuso, além de uma série de outras vantagens que os tornaram uma das classes mais bem pagas do país.

Em compensação teriam que aguentar todo tipo de abuso, desde abuso do chefe, truculência policial, ligações de telemarketing, visitas religiosas no sábado (e domingo) pela manhã entre outros.

Fim!

Gildson Góes