domingo, 20 de outubro de 2013

Hyouka – Uma homenagem escolar à literatura policial


A frente: Oreki e Chitanda. Atrás: Fukube e Ibara

A ficção escolar, ou seja, aquela que é ambientada em colégios ou faculdades, é um gênero muito comum na produção ficcional para jovens, creio que por ser mais fácil criar um reconhecimento entre obra e público quando a trama se desenvolve em um ambiente familiar e com personagens na mesma faixa etária de seu público alvo. Assim é com diversas séries de TV americanas, assim é na literatura e cinema (exemplo mais fácil é a saga Harry Potter) e assim também na produção ficcional japonesa. Há no Japão um verdadeiro nicho voltado para a ficção escolar, seja nos mangás, animes, light novels, games e até mesmo na área dos eróticos. São tantas e variadas obras que é quase possível virar um especialista no sistema educacional japonês.

Hyouka surgiu como uma light novel que como tantas outras é ambientada no ambiente escolar e vivida por adolescentes, com o sucesso ela acabou se tornando uma série em mangá e em seguida adaptada para anime (seguindo a trajetória clássica do sucesso no Japão, caso continue, vem ainda uma segunda temporada, um filme live action e por aí vai...) e é nesse ponto que ela chegou ao meu conhecimento e é justamente o anime que é alvo dessa resenha. O que me chamou atenção em Hyouka foi o fato de ser uma história que presta homenagem a um de meus estilos favoritos na literatura, as histórias policiais ou histórias de detetives para ser mais exato.

A história começa com Hotaro Oreki um jovem preguiçoso, porém de notável inteligência, cujo lema é “não faço nada que não preciso fazer e o que preciso fazer, faço-o rápido”. Quando estava iniciando um novo ano letivo em seu colégio, Oreki recebe uma carta de sua irmã mais velha, pedindo que ele se junte ao clube de Literatura Clássica, clube do qual ela mesmo fez parte, para impedir que este seja fechado na escola. Contrariado, mas convencido pelos apelos da irmã e se inscreve no clube, crendo que ele seria o único membro e já que não poderia voltar mais cedo pra casa, pelo menos poderia ficar na sala do clube sem fazer nada.

No Japão após o horário das aulas os alunos podem retornar para casa ou participar de atividades de clubes que são montados e presididos pelos próprios alunos, neles são praticadas as mais diversas atividades, esportes, jogos, atividades culturais, etc.

Acontece que Oreki não era o único a se inscrever no clube, pois Eru Chitanda, filha de uma das famílias mais ricas e poderosas da cidade, também se inscrevera no clube, ambos se encontram na sala onde deveria funcionar o clube, mas surge um mistério, quando Oreki chegou a essa sala ela estava trancada e Chitanda não possuía nenhuma chave, esta não sabia que estava trancada e fica curiosa por saber quem a trancou ali, pois a porta estava aberta quando ela chegou. Oreki não dá maior importância ao incidente, mas Chitanda possui uma estranha obsessão pelas coisas que lhe deixam curiosa e acaba forçando Oreki a buscar uma solução para o mistério, seguindo seu lema “o que tenho de fazer, faço rápido” ele aplica seu raciocínio a questão e chega a uma conclusão rápida. A partir daí seu estilo tranquilo de vida jamais será o mesmo, pois Chitanda irá sempre submeter a ele os problemas que lhe despertam a curiosidade e Oreki, que se apaixona por ela a primeira vista, sempre se forçará a abandonar seus estilo preguiçoso de viver.

Mistérios variados vão ocorrendo na série e várias referências, explicitas ou implícitas, a clássicos da literatura policial vão aparecendo no decorrer da história, principalmente relacionadas aos romances de Conan Doyle e Agatha Christie. O modo como Oreki resolve os mistérios lembra muito a Ciência da Dedução de Sherlock Holmes, embora ele próprio lembre mais Mycroft, o irmão genial, porém preguiçoso de Holmes. Tanto é que, embora muito inteligente, Oreki tira apenas notas medianas, pois não gosta de se empenhar tanto nos estudos. Outro personagem interessante é Satoshi Fukube, amigo de Oreki e dono de uma memória enciclopédica a qual se refere sempre como um banco de dados, não raro ele é de utilidade para a resolução dos mistérios trazendo de sua mente dados que são analisados e resolvidos por Oreki. Eru Chitanda, também é de utilidade para resolução dos mistérios, dona de sentidos aguçadíssimos de olfato, audição, visão e memória e é a aluna mais inteligente de sua classe, várias vezes seus sentidos são utilizados nas investigações. Por última temos Mayaka Ibara, provavelmente a personagem mais apagada dentre os quatro principais, ela não tem um talento marcante, mas é inteligente e, também, várias vezes foi utilidade para Oreki, juntos os quatro formam uma verdadeira equipe de investigação que analisam e desvendam uma série de mistérios que ocorrem na escola.

Cabe destacar que a maioria dos mistérios é bem boba, incidentes que seria comuns na vida escolar, porém o que é interessante na série é a acompanhar o raciocínio de Oreki e ver como ele vai conectando as pistas até formar uma teoria lógica que explique os fatos. Exemplo disso é um dos episódios que ocorre inteiramente numa sala, num diálogo entre Chitanda e Oreki e numa teoria que eles desenvolvem baseados num estranho aviso da diretoria da escola, a rigor não ocorre nada, mas a discussão teórica entre os dois preenche todo o episódio sem o tornar enfadonho. Essa narração baseada principalmente nos métodos analíticos e dedutivos trazendo para nós uma conexão com os romances de Poe e Doyle é que é o grande atrativo desse anime. Por isso o considero como uma homenagem escolar à literatura policial.

O anime recebeu um tratamento de luxo, com excelente animação e cenários belíssimos retratando uma típica cidade interiorana do Japão com suas ruas de subúrbio, campos de arroz, grandes árvores de cerejeira floridas e as típicas mansões japonesas. A trilha sonora não é de grande destaque, mas cumpre bem seu papel! Enfim é um anime de alta qualidade técnica.

Um espectador não acostumado com esse universo de animes escolares pode estranhar e até mesmo não gostar de abordagem “teen” que é dada a história, ou seja, sugestão de um romance bonitinho e recatado entre os personagens, o desenho fofo das personagens femininas e por aí vai, mas basta lembrar do público alvo desse estilo e saiba que isso não compromete em nada a história. Pode assistir sem medo! Recomendado
Um trabalho belíssimo de ilustração nesse anime.

sábado, 12 de outubro de 2013

Resenha: Uma Confraria de Tolos de John Kennedy Toole



“Quando surge no mundo um verdadeiro gênio, pode-se identificá-lo por este sinal: contra ele juntam-se em aliança todos os tolos”
Jonathan Swift

Ignatius J. Reily, intelectual obeso, desagradável, preguiçoso e egocêntrico, passa os dias trancado em seu quarto de camisolão rabiscando em seus cadernos suas invectivas contra a idade moderna ao mesmo tempo em que sofre de seus intensos problemas de gases. Ignatius é uma mente medieval que foi lançada catastroficamente no século errado. Para ele, o iluminismo foi uma grande mentira, a cultura não passa de um amontoado de afrontas aos bons costumes e a decência. Toda sua visão do mundo é embasada nos pensadores medievais como Boécio e Tomás de Aquino, além dos quadrinhos do BATMAN. Este é o (anti) herói dessa obra única de J. K. Toole.

A história começa quando sua mãe o obriga a sair às ruas em busca de emprego, porém sua mera presença fora do lar atrai uma série de desventuras quixotescas que quase sempre acabam em confusão, hábil nas palavras, Ignatius mente frequentemente para escapar das ciladas que ele mesmo apronta, mas nunca tarda para entrar em outra. Em sua Cruzada solitária contra a falta de geometria e teologia do mundo, nosso herói cruza com os mais diversos personagens, os malandros, policiais, exploradores e explorados. Nunca deixando de chamar atenção, geralmente negativa, e jamais tendo medo de expressar sua “cosmovisão” do mundo a quem quer que seja. As aventuras de Reily por uma Nova Orleans setentista acaba influenciando e mudando a vida de diversas pessoas ao seu redor.

É difícil descrever Uma Confraria de Tolos, inicialmente é uma comédia, tal como Swift em as viagens de Gulliver ou Cervantes em Dom Quixote, Toole constrói um verdadeiro mosaico das tolices humanas em sua obra, além de tecer uma crítica ácida a sociedade. Os personagens são variados e todos muito bem construídos em sua proposta, ou seja, não quer dizer que você irá de gostar deles, para exemplificar citemos a Sra. Reily, mãe de Ignatius, uma medíocre que sai pra se divertir com seus amigos igualmente medíocres onde tecem uma série de diálogos igualmente medíocres, ou Lana Lee, dona de uma boate sórdida onde trata como uma tirana seus funcionários, engana clientes desavisados e ainda tira lucro de um comércio ilegal de distribuição de pornografia em escolas ou ainda a Sra. Levy, madame rica, altruísta de fachada, que se diverte em atormentar o marido. Mas há personagens interessantíssimos, como Jones, negro, pobre e sem instrução, que tem de enfrentar todos os problemas do racismo americano, inclusive uma semiescravidão moderna nas mãos da já citada Lana Lee.

Há também um pretenso par romântico para Reily, Mirna Minkoff, do Bronx, sua única interlocutora e também sua Nêmese, liberal radical e agressiva, Mirna é profundamente engajada no mundo real, acredita que o sexo é a salvação do mundo e está sempre engajada nas mais diversas manifestações e protestos. Embora contrários, ambos são incompreendidos e ao mesmo tempo são os únicos que se compreendem, disso nasce uma relação que embora íntima é também conflituosa, as violentas e injuriosas cartas que eles trocam entre si, são pra mim um dos melhores momentos do livro. De fato, todas as aventuras que ocorrem no livro não passam de tentativas de Ignatius de se sobrepor e vencer todos os ideais de sua rival/amiga. Já ela, critica a reclusão de Ignatius, considera suas aventuras como paranoias causadas pela falta de sexo e procura convencê-lo a se juntar a ela em Nova York.

O desenvolvimento da história e primoroso, todos os eventos são bem amarrados e significativos, cada cena, embora aleatória no início tem seu significado revelado, enfim é uma trama extremamente bem construída e só não chega a perfeição, por um certo Professor Talc, que aparentemente serve apenas para ilustrar alguns episódios do passado de Ignatius e Mirna, sua participação me soou desnecessária ou eu perdi algum fio da meada. 

Por fim, recomendo vivamente este livro, leia-o e não desanime com os primeiros capítulos (são muito fracos) você irá compreender o sentido da obra no final, preste atenção nas cartas entre Mirna e Ignatius e nos diários, onde este expõe suas invectivas contra o mundo, são as melhores e mais geniais partes do livro.

terça-feira, 2 de julho de 2013

JON LORD CONCERTO FOR GROUP AND ORCHESTRA um legado para a música

Foi há 44 anos que um Deep Purple ainda jovem com um recém chegado Ian Gillan reuniu-se no Royal Albert Hall com a Royal Philharmonic Orchestra num grande concerto que misturava música clássica e rock, esse show terminou com a execução de uma peça escrita pelo tecladista da banda, Jon Lord, chamada de Concerto For Group and Orchestra onde banda e orquestra dialogavam, ou melhor, digladiavam-se num feroz embate entre música erudita, rock e blues. O resultado foi um disco ao vivo que por muitos anos foi o único registro desse espetáculo, pois nos anos 70 as partituras do Concerto foram perdidas acabando com as possibilidades de realizarem novamente a performance por anos.

Porém, em 1999 a partitura foi restaurada por Marco de Goeji e novamente Jon Lord e o Deep Purple executaram a obra no Royal Albert Hall, dessa vez ao lado da London Symphony Orchestra, conduzida por Paul Mann, contando ainda com a participação especial de diversos artistas, dentre eles o saudoso Dio. Esse show foi registrado num DVD chamado Deep Purple In Concert, o segundo registro ao vivo da peça.

Os anos se passaram, até que em 2011 Jon Lord resolveu, em parceria com Paul Mann fazer um novo registro de sua peça, mas dessa vez um registro em estúdio, um Concerto For Group and Orchestra definitivo. Para isso foram realizadas algumas alterações como, por exemplo, a falta de uma banda específica para tocar em conjunto com a orquestra, convidados diversos foram chamados para serem os solistas do concerto: Brett Morgan na Bateria, Guy Pratt no baixo elétrico, o próprio Jon Lord nos teclados e órgão, e a guitarra foi divida entre três guitarristas, um para cada movimento, Darin Vasiliev no primeiro, Joe Bonamassa no segundo e Steve Morse no terceiro. O trecho cantando do segundo movimento, foi divido entre três vocalistas, um dueto entre Steve Balsamo e Kasia Laska cantaram a primeira estrofe e Bruce Dickinson cantando solo a segunda estrofe, numa performance espetacular devo dizer. Conforme o maestro Paul Mann essa decisão foi tomada para que se pudesse apreciar a obra por ela mesma e não dar um caráter personalista como aconteceria caso o Deep Purple executasse as partes elétricas novamente. A parte sinfônica foi executada pela Royal Liverpool Philharmonic Orchestra, conduzida por Paul Mann.

O Concerto for Group and Orchestra é uma peça que se divide em três movimentos, o primeiro Moderato-Allegro, que começa o concerto de forma majestosa num diálogo harmônico entre os instrumentos de corda e os de sopro, a música segue como uma típica peça erudita, aos poucos vai deixando o tom majestoso e entrando num ritmo mais alegre quando então é subitamente interrompida pelos instrumentos elétricos, que tomam a frente na execução destilando um típico hardrock setentista com a guitarra e órgão Hamond de Lord esbanjando virtuosismo em solos frenéticos, a orquestra volta se impor e por um instante a música clássica volta a dominar o cenário, mas logo o rock retorna aproveitando uma pequena deixa da orquestra e assim ambos os estilos permanecem nesse duelo até o final dramático do primeiro movimento.

Começa então o Segundo Movimento, Andante, mais calmo e silencioso, aqui a orquestra executa uma música suave, cadenciada. Novamente o clássico está em evidência, mas não tardará para o rock fazer sua interferência, dessa vez de maneira mais discreta, é quando entra os primeiros vocalistas cantando:

How can I see When the light is gone out
How can I hear When you speak so silentlyMore than enough Is never too muchHold out a hand I'm so out of touchDo unto me As your heart would have you doLooks on my head Cannot get the message throughSword in my hand Can cut through the woodPeace in my heart Can summon the mood


Esses versos, que ilustram a insegurança do cantor ante a enfrentar o palco e platéia durante o show, foram escritos por Ian Gillan e cantados por ele nas performances ao vivo do Concerto, aqui essa estrofe é divida entre os vocalistas Steve Balsamo e Kasia Laska que dão um ar gospel à música, mas ainda assim enfatizando a agonia do vocalista, volta a orquestra apenas para executar um pequeno interlúdio com um tema que da ainda mais dramaticidade a estrofe cantada. A banda volta executando um blues e o vocalista canta com mais intensidade como se sua agonia tivesse apenas aumentado:

What shall I do When they stand smiling at me
Look at the floor And be oh so cool
Oh so cool
How shall I know When to start singing my song
What shall I do If they all go wrong
What shall I do

Aqui temos a performance arrasadora de Bruce Dickinson cantando lindamente em sua rápida, porém notável aparição, o blues segue até ser novamente substituído pela orquestra que mantém a música em tons baixos encerrando de forma sombria o segundo movimento.

O Terceiro Movimento, Vivace-Presto, começa ligeiro, temos nesse movimento não um duelo entre o clássico e o rock, mas uma junção dos instrumentos elétricos e acústicos que aparecem trabalhando juntos. Tudo segue agitado até que um repentino e arrasador solo de bateria interrompe todos os instrumentos e se impõe no cenário. Passado o solo banda e orquestram voltam a dialogar criando um som frenético com tensão crescente e ao chegar ao clímax, de maneira súbita, encerram o concerto.

E então é o silêncio, a contagem do tempo termina, o disco para de girar no player e a vontade que fica é de embarcar novamente naquela viagem sonora.


Jon Lord não viveria muito após a conclusão de sua obra, teria ele pressentido isso? Teria ele deixado Concerto for Group and Orchestra como seu presente de despedida para o mundo? Não sei, mas sei que ele deixou um verdadeiro legado para o Rock’n Roll e para a música em geral. Tenho certeza que bandas e orquestras ainda subirão ao palco muitas vezes no futuro para executar esse Concerto. Obrigado Jon e descanse em paz!

domingo, 28 de abril de 2013

Evangelion 3.33 You Can (Not) Redo



 "Perdão, essa não era a felicidade que você queria" - Kaworu Nagisa

Para aqueles que não acompanham a série, vale uma pequena introdução. Neon Genesis Evangelion foi uma série de animação japonesa surgida em meados dos anos 90 com direção de Hideaki Anno, a serie contou com 26 episódios e dois longas metragens, realizados ainda naquela década, onde o primeiro, Death and Rebirth se tratava de um “resumão” dos episódios anteriores e o segundo The End of Evangelion era a tão esperada conclusão épica da série. Evangelion é basicamente duas coisas, uma série sobre robôs gigantes, famosíssimas no Japão, e uma das visões mais originais sobre o Apocalipse onde o destino do mundo é colocado na mão de crianças problemáticas e manipulado conforme um plano milenar (os Manuscritos do Mar Morto) regido por uma organização/seita religiosa, sombria. Não vou entrar em detalhes aqui, há farto material espalhado pela internet.

Mas enfim, os anos 90 passaram, Anno se envolveu em outros projetos, destacando dois, uma comédia romântica escolar (Karekano) e uma minissérie de humor “non-sense” (FLCL), veio uma nova década e já perto do fim dessa nova década, lá por 2007 ou 2008, Anno anuncia que voltará a trabalhar em Evangelion, não uma continuação (esperada por alguns, temida por outros), mas sim uma revisão, uma reconstrução de sua série original, utilizando nela todos os recursos que não existiam no século 20, e tal revisão seria feita em quatro longas metragens que receberiam o nome Rebuild of Evangelion.

Desde então dois filmes foram lançados: Evangelion 1.1 You Are (Not) Alone e Evangelion 2.22 You Can (Not) Advance, que não apenas incrementaram a história com efeitos visuais e sonoros de ponta, animação caprichada e CG de bom gosto, mas também reescreveram a história original de uma forma que nem o mais fanático dos fãs pudesse prever o final. Isso levou muitos fãs ao delírio a uma espera ansiosa pelo próximo capítulo, atrasado por diversas situações, incluído aí o terrível terremoto que devastou o Japão recentemente. É sobre esse capítulo que esse artigo se refere.

Mas peço a paciência do leitor para mais uma observação. É preciso ressaltar que Evangelion 1.1 foi basicamente uma remake dos primeiros capítulos da série acrescentado de mais algumas novidades que indicavam que a serie iria tomar um rumo diferente. Já Evangelion 2.22 pegou tudo o que você já sabia sobre a série e embaralhou de vez numa trama quase que 100% inédita, mas ainda assim havia muitas referências a acontecimentos da série.

Isso não acontece em Evangelion 3.33 You Can (Not) Redo, temos aqui um capitulo 100% inédito, nada do que é mostrado aqui aconteceu na série, é um rumo totalmente diferente e sabe-se lá o que irá acontecer quando isso tudo terminar. Esse a meu ver é o maior mérito desse novo capítulo da série, resgatar aquela boa e velha sensação de não saber o que vai acontecer. Se os capítulos anteriores com suas similaridades com a série original serviu pra cativar os saudosistas essa segunda metade da história vai saciar (ou não) aqueles que tinham fome de algo inédito relacionado à série.

No aspecto técnico o filme é excelente, efeitos e trilha sonora, animação, CG, fotografia, enfim todos os aspectos estão excelentes. O filme esbanja teatralidade em suas cenas, exemplos: os vários movimentos obviamente desnecessários que eles fazem pra controlarem os robôs, sons no espaço, a destruição em massa de cidades e prédios e até mesmo uma montanha de crânios, sabe-se lá de onde vieram, são alguns dos exageros propositais que eu tanto gosto nesse filme e o fato de tudo ser uma animação ajuda a não tornar esses exageros em cenas ridículas, até a cena mais surreal acaba ocorrendo de forma natural através do filme.

Já o roteiro do filme pode desagradar alguns, Eva 3.33 é mais lento que seu antecessor o frenético Eva 2.22, as cenas de ação concentram-se basicamente no início do filme e no final, ao contrário do filme anterior onde o foco estava nas quatro crianças pilotos Rei, Asuka, Mari e Shinji, aqui neste terceiro o foco é todo para Shinji, suas dúvidas, dilemas, culpas e sua relação afetiva com o misterioso Kaworu Nagisa onde ambos desenvolvem uma forte amizade um pelo outro, que será para Shinji o único alento que ele terá no mundo destruído após os eventos do segundo filme.

Poucos personagens, ambientes lúgubres e permanente sensação de isolamento e calmaria dão a tônica sombria e até depressiva desse capitulo, seu final é inconclusivo, uma vitória sem cara de vitória, a extinção, que nunca pareceu tão próxima quanto nesse filme (nem mesmo na série) não foi extirpada, somente adiada. Shinji, destruído psicologicamente, Kaworu morto, Rei, tentando descobrir sua própria identidade, Mari, personagem que não consta na história original, apesar de uma participação mais efetiva nesse capítulo, ainda tem que demonstrar a que veio e Asuka (fenomenal como jamais esteve na série original) assumindo a liderança do grupo sobre um deserto de destruição do que um dia já foi a humanidade.

Enfim, um filmaço, verdade que o dois é mais divertido, mas ainda assim esse terceiro episódio deu uma ótima continuidade a história trazendo novas dúvidas e especulações para os fãs da série que farão uma verdadeira masturbação mental de teorias que A+B será C até o lançamento do quarto e último capitulo dessa história que, a conhecer o currículo do diretor em questão, deixará mais dúvidas do que respostas.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

GHOST



Quando conheci a banda sueca Ghost ela já era famosa e sucesso de crítica na maioria dos sites que acompanho, mas nunca tinha me chamado a atenção, a maquiagem do vocalista e as vestimentas do resto da banda me fizeram pensar que se tratava de mais uma dessas bandas de Black Metal revoltadas com Deus e fazendo um som extremo com vocal gutural e uma bateria na velocidade da luz. Sorte minha que um amigo (valeu Oscar) me indicou a banda e me esclareceu do que se tratava, fiquei curioso, fui procurar e conheci uma das minhas bandas favoritas da atualidade.

Apesar de ser recente, estrearam em 2010, o Ghost faz um som que poderia muito bem ter surgido na década de 70, não há traços de modernidade aqui tudo soa bastante datado, embora seja muito bem produzido. O vocalista apesar da aparência externa, um papa satânico, canta com uma voz limpa e até mesmo lírica em alguns momentos. O som não tem palhetadas distorcidas, efeitos eletrônicos ou coisas do gênero, ao contrário, bebe de fontes como o rock progressivo, hard rock e o Heavy Metal dos anos 70, tendo até mesmo traços de pop, tornando a música agradável e acessível para todos os ouvidos, ou seja, não precisa ser um fã de metal pra ouvir Ghost.

O que talvez possa complicar ao possível ouvinte uma audição de Ghost são suas letras, descaradamente (e até mesmo ridiculamente) satânicas. Na verdade, são letras bem ingênuas, um crítico descreveu-as como algo que um adolescente rebelde poderia ter escrito pra irritar sua professora de religião. Aí é que está a diversão, o Ghost une talento e técnica em composições belíssimas que destoam completamente do discurso repugnante de suas letras e fazem tudo isso sem pretensão alguma. Não há discursos filosóficos ou exortações contra cristãos, não há críticas a Deus ou a Igreja, enfim é um satanismo “inocente” voltado ao mero entretenimento.

Ghost não é uma banda que se deva ouvir com pretensões intelectuais ou ainda em busca de algo novo, original, o que temos é uma volta ao passado com fortes influências de bandas como Black Sabbath, Coven, Blue Öyster Cult, dentre outras. Escute Ghost com o mesmo espírito com o qual você assistiria a um bom filme de terror, sem grandes pretensões, assim sendo será diversão garantida.

O Ghost tem atualmente dois discos lançados: Opus Eponymous de 2010, mais cru e setentista e Infestissuman de 2013, mantendo a identidade setentista, mas com adição de elementos do Pop, ambos excelentes, audições mais que recomendadas. Caso queria conhecer mais sobre esses discos e sobre a banda em si indico as excelentes resenhas de Ricardo Seelig da Collector’s Room.


Infestissuman: http://www.collectorsroom.com.br/2013/04/ghost-bc-critica-de-infestissumam-2013.html

Atualização
Comentário do Oscar Vareda: "- se o ghost fosse um filme, seria "the evil dead": bem feito, despretensioso e divertido pra caralho".