domingo, 8 de junho de 2014

RESENHAS: Dois livros


O Dia Em Que O Rock Morreu – Andre Forastieri.

Esse livro é um epitáfio para o Rock'n Roll escrito por Andre Forastieri, jornalista com gabarito, foi editor da Bizz, fundou a revista Herói e publicou diversos livros e mangás através de sua editora a Conrad, pioneira no ramo dos quadrinhos japoneses no Brasil, enfim um cara com bagagem pra falar de muita coisa, mas aqui o assunto foi Rock, sobre o que ele foi, como morreu e como somos todos um bando de necrófilos por continuarmos nessa teimosia de acharmos que ele ainda é relevante para o mundo.

Editado a semelhança de um disco punk, porém conceitual, conceitual porque dividido em quatro partes que se alinham conceitualmente e seriam como lados A e B de um disco duplo, punk porque é livro pequeno, de textos curtos e grossos, daqueles que não deixam a gente ficar indiferente, daqueles que mexem, irritam, abalam suas estruturas, seus conceitos e por que não? Te fazem refletir. Ao mesmo tempo que enterra o rock o livro em si é um celebração ao melhor que o rock foi, muito mais do que um mero estilo musical, mas um estilo de vida, de atitude, de filosofia.

Bem embasado em argumentos o livro nos mostra como o Rock envelheceu, perdeu seu sentido e sua juventude, virando um estilo elitizado apreciado por um público restrito que o degusta como um enólogo desguta vinhos. Um estilo pragmático cheio de regras e tabús. Forastieri pega tudo isso e joga na nossa cara, um tapa ou um soco, pode doer, mas vale a pena a reflexão.

Não é a toa que a capa do livro emula a capa dos Nevermind the bolocks dos Sex Pistols, o livro é um disco punk, escrachado e pode acreditar vai causar uma reação em você. São textos espalhados por toda a carreira jornalistica de Forastieri onde hora ele disseca grandes ídolos, hora disseca o rock brasileiro, perpassa a história das revistas, gravadoras e capas de disco e por fim, tudo o que ele já escreveu sobre o Nirvana, não são crônicas lineares, mas fazem todo sentido quando organizadas pelo autor.

Para todo fã ou apreciador de rock vale a pena a leitura deste que já considero um dos melhores livros do ano, recomendo e recomendarei. Mas cuidado, é preciso ter mente aberta, é preciso entender o que o autor quer lhe dizer, principalemente é preciso não ter medo de ter suas convicções abaladas, pois o autor não tem medo de lhe abalar, lhe dirá o que quer dizer sem meias palavras como lhe diriam aqueles rockeiros do passado que não irá voltar mais.

Ghost Rider – A Estrada da Cura – Neil Peart

Essa não foi a primeira incursão literaria de Neil Peart, mas certamente foi a mais dolorosa. Em 1997 Peart era reconhecido como um dos melhores bateristas do mundo, membro de uma das bandas gigantes do rock o RUSH, tinha acabado de concluir uma mega turnê do disco Test for Echo, considero por ele seu auge como baterista, bem de vida, casado, filha na faculdade, ele era um homem realizado.

Quando a tragédia se abateu sobre sua vida, levando sua filha, num acidente de carro e sua esposa, por câncer menos de um depois, sozinho e abatido Peart só via escuridão em seu futuro, todo o otimismo que tinha se esvaíra, todo o sucesso, fama, música, nada mais parecia importar, ainda que vivo a vida parecia acabar, só um coisa lhe restava, pegar a estrada.

Apaixonado por viagens, Peart se lançou na Estrada a procura de um sentido, da vontade de viver, os relatos dessa busca são a matéria de Ghost Rider, através de narração, diários e cartas que ele escreveu durante esse período viajamos juntos com eles pelas paisagens do Canadá, Alasca, EUA e México, todos os lugares onde andou, pessoas que encontrou, amigos, conhecidos, familiares, enfim toda a história de suas viagens.

O autor entrega sem vergonha todos os seus momentos de fraqueza, suas crises de choro, seus momentos de depressão, mas também relata as pequenas esperanças que iam surgindo aos poucos, as pequenas vitórias que iam surgindo, como ele ia reapredendo a amar a vida sem se entregar jamais as facilidades do vício (ele relata como chegou perigosamente perto de se tornar um alcóolatra ) e da amargura.


Não é livro sobre música, há breves comentários, mas nada demais, não há histórias sobre o Rush, uma ou duas, va lá, basicamente é um livro sobre viagens, sobre perda, sobre esperança. O livro é grande, mais de 500 páginas, leitura as vezes pesada, mas um bela história para quem quer conhecer o homem por trás das baquetas do Rush, sua visão de mundo e suas convicções.