Foi há 44 anos que um Deep Purple
ainda jovem com um recém chegado Ian Gillan reuniu-se no Royal Albert Hall com
a Royal Philharmonic Orchestra num grande concerto que misturava música
clássica e rock, esse show terminou com a execução de uma peça escrita pelo
tecladista da banda, Jon Lord, chamada de Concerto For Group and Orchestra onde
banda e orquestra dialogavam, ou melhor, digladiavam-se num feroz embate entre
música erudita, rock e blues. O resultado foi um disco ao vivo que por muitos
anos foi o único registro desse espetáculo, pois nos anos 70 as partituras do
Concerto foram perdidas acabando com as possibilidades de realizarem novamente
a performance por anos.
Porém, em 1999 a partitura foi
restaurada por Marco de Goeji e novamente Jon Lord e o Deep Purple executaram a
obra no Royal Albert Hall, dessa vez ao lado da London Symphony Orchestra,
conduzida por Paul Mann, contando ainda com a participação especial de diversos
artistas, dentre eles o saudoso Dio. Esse show foi registrado num DVD chamado
Deep Purple In Concert, o segundo registro ao vivo da peça.
Os anos se passaram, até que em
2011 Jon Lord resolveu, em parceria com Paul Mann fazer um novo registro de sua
peça, mas dessa vez um registro em estúdio, um Concerto For Group and Orchestra
definitivo. Para isso foram realizadas algumas alterações como, por exemplo, a
falta de uma banda específica para tocar em conjunto com a orquestra, convidados
diversos foram chamados para serem os solistas do concerto: Brett Morgan na
Bateria, Guy Pratt no baixo elétrico, o próprio Jon Lord nos teclados e órgão,
e a guitarra foi divida entre três guitarristas, um para cada movimento, Darin
Vasiliev no primeiro, Joe Bonamassa no segundo e Steve Morse no terceiro. O
trecho cantando do segundo movimento, foi divido entre três vocalistas, um
dueto entre Steve Balsamo e Kasia Laska cantaram a primeira estrofe e Bruce
Dickinson cantando solo a segunda estrofe, numa performance espetacular devo
dizer. Conforme o maestro Paul Mann essa decisão foi tomada para que se pudesse
apreciar a obra por ela mesma e não dar um caráter personalista como
aconteceria caso o Deep Purple executasse as partes elétricas novamente. A
parte sinfônica foi executada pela Royal Liverpool Philharmonic Orchestra,
conduzida por Paul Mann.
O Concerto for Group and
Orchestra é uma peça que se divide em três movimentos, o primeiro Moderato-Allegro, que começa o concerto
de forma majestosa num diálogo harmônico entre os instrumentos de corda e os de
sopro, a música segue como uma típica peça erudita, aos poucos vai deixando o
tom majestoso e entrando num ritmo mais alegre quando então é subitamente
interrompida pelos instrumentos elétricos, que tomam a frente na execução
destilando um típico hardrock setentista com a guitarra e órgão Hamond de Lord esbanjando
virtuosismo em solos frenéticos, a orquestra volta se impor e por um instante a
música clássica volta a dominar o cenário, mas logo o rock retorna aproveitando
uma pequena deixa da orquestra e assim ambos os estilos permanecem nesse duelo até
o final dramático do primeiro movimento.
Começa então o Segundo Movimento,
Andante, mais calmo e silencioso, aqui
a orquestra executa uma música suave, cadenciada. Novamente o clássico está em
evidência, mas não tardará para o rock fazer sua interferência, dessa vez de
maneira mais discreta, é quando entra os primeiros vocalistas cantando:
How can I see When the
light is gone out
How
can I hear When you speak so
silentlyMore
than enough Is never too muchHold
out a hand I'm so out of touchDo
unto me As your heart would have
you doLooks
on my head Cannot get the message
throughSword
in my hand Can cut through the woodPeace
in my heart Can summon the
mood
Esses versos, que ilustram a
insegurança do cantor ante a enfrentar o palco e platéia durante o show, foram
escritos por Ian Gillan e cantados por ele nas performances ao vivo do
Concerto, aqui essa estrofe é divida entre os vocalistas Steve Balsamo e Kasia
Laska que dão um ar gospel à música, mas ainda assim enfatizando a agonia do
vocalista, volta a orquestra apenas para executar um pequeno interlúdio com um
tema que da ainda mais dramaticidade a estrofe cantada. A banda volta
executando um blues e o vocalista canta com mais intensidade como se sua agonia
tivesse apenas aumentado:
What shall I do When they stand
smiling at me
Look at the floor And be oh so cool
Oh so cool
Look at the floor And be oh so cool
Oh so cool
How shall I know When to start singing
my song
What shall I do If they all go wrong
What shall I do
What shall I do If they all go wrong
What shall I do
Aqui temos a performance
arrasadora de Bruce Dickinson cantando lindamente em sua rápida, porém notável
aparição, o blues segue até ser novamente substituído pela orquestra que mantém
a música em tons baixos encerrando de forma sombria o segundo movimento.
O Terceiro Movimento, Vivace-Presto, começa ligeiro, temos
nesse movimento não um duelo entre o clássico e o rock, mas uma junção dos
instrumentos elétricos e acústicos que aparecem trabalhando juntos. Tudo segue
agitado até que um repentino e arrasador solo de bateria interrompe todos os
instrumentos e se impõe no cenário. Passado o solo banda e orquestram voltam a
dialogar criando um som frenético com tensão crescente e ao chegar ao clímax,
de maneira súbita, encerram o concerto.
E então é o silêncio, a contagem
do tempo termina, o disco para de girar no player e a vontade que fica é de
embarcar novamente naquela viagem sonora.
Jon Lord não viveria muito após a
conclusão de sua obra, teria ele pressentido isso? Teria ele deixado Concerto
for Group and Orchestra como seu presente de despedida para o mundo? Não sei,
mas sei que ele deixou um verdadeiro legado para o Rock’n Roll e para a música
em geral. Tenho certeza que bandas e orquestras ainda subirão ao palco muitas
vezes no futuro para executar esse Concerto. Obrigado Jon e descanse em paz!
2 comentários:
Não conhecia essa obra de arte. Lindo!
Obrigado
na verdade só conhecia com o Ian Guilan, em 1968.
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