"Perdão, essa não era a felicidade que você queria" - Kaworu Nagisa
Para aqueles que não acompanham a
série, vale uma pequena introdução. Neon Genesis Evangelion foi uma série de
animação japonesa surgida em meados dos anos 90 com direção de Hideaki Anno, a serie
contou com 26 episódios e dois longas metragens, realizados ainda naquela
década, onde o primeiro, Death and Rebirth se tratava de um “resumão” dos
episódios anteriores e o segundo The End of Evangelion era a tão esperada
conclusão épica da série. Evangelion é basicamente duas coisas, uma série sobre
robôs gigantes, famosíssimas no Japão, e uma das visões mais originais sobre o
Apocalipse onde o destino do mundo é colocado na mão de crianças problemáticas e manipulado
conforme um plano milenar (os Manuscritos do Mar Morto) regido por uma organização/seita religiosa, sombria.
Não vou entrar em detalhes aqui, há farto material espalhado pela internet.
Mas enfim, os anos 90 passaram,
Anno se envolveu em outros projetos, destacando dois, uma comédia romântica
escolar (Karekano) e uma minissérie de humor “non-sense” (FLCL), veio uma nova
década e já perto do fim dessa nova década, lá por 2007 ou 2008, Anno anuncia
que voltará a trabalhar em Evangelion, não uma continuação (esperada por
alguns, temida por outros), mas sim uma revisão, uma reconstrução de sua série
original, utilizando nela todos os recursos que não existiam no século 20, e
tal revisão seria feita em quatro longas metragens que receberiam o nome
Rebuild of Evangelion.
Desde então dois filmes foram
lançados: Evangelion 1.1 You Are (Not) Alone e Evangelion 2.22 You Can (Not)
Advance, que não apenas incrementaram a história com efeitos visuais e sonoros
de ponta, animação caprichada e CG de bom gosto, mas também reescreveram a
história original de uma forma que nem o mais fanático dos fãs pudesse prever o
final. Isso levou muitos fãs ao delírio a uma espera ansiosa pelo próximo
capítulo, atrasado por diversas situações, incluído aí o terrível terremoto que
devastou o Japão recentemente. É sobre esse capítulo que esse artigo se refere.
Mas peço a paciência do leitor
para mais uma observação. É preciso ressaltar que Evangelion 1.1 foi
basicamente uma remake dos primeiros capítulos da série acrescentado de mais
algumas novidades que indicavam que a serie iria tomar um rumo diferente. Já
Evangelion 2.22 pegou tudo o que você já sabia sobre a série e embaralhou de
vez numa trama quase que 100% inédita, mas ainda assim havia muitas referências
a acontecimentos da série.
Isso não acontece em Evangelion
3.33 You Can (Not) Redo, temos aqui um capitulo 100% inédito, nada do que é mostrado
aqui aconteceu na série, é um rumo totalmente diferente e sabe-se lá o que irá
acontecer quando isso tudo terminar. Esse a meu ver é o maior mérito desse novo
capítulo da série, resgatar aquela boa e velha sensação de não saber o que vai
acontecer. Se os capítulos anteriores com suas similaridades com a série
original serviu pra cativar os saudosistas essa segunda metade da história vai
saciar (ou não) aqueles que tinham fome de algo inédito relacionado à série.
No aspecto técnico o filme é
excelente, efeitos e trilha sonora, animação, CG, fotografia, enfim todos os
aspectos estão excelentes. O filme esbanja teatralidade em suas cenas,
exemplos: os vários movimentos obviamente desnecessários que eles fazem pra
controlarem os robôs, sons no espaço, a destruição em massa de cidades e prédios
e até mesmo uma montanha de crânios, sabe-se lá de onde vieram, são alguns dos
exageros propositais que eu tanto gosto nesse filme e o fato de tudo ser uma
animação ajuda a não tornar esses exageros em cenas ridículas, até a cena mais
surreal acaba ocorrendo de forma natural através do filme.
Já o roteiro do filme pode
desagradar alguns, Eva 3.33 é mais lento que seu antecessor o frenético Eva
2.22, as cenas de ação concentram-se basicamente no início do filme e no final,
ao contrário do filme anterior onde o foco estava nas quatro crianças pilotos
Rei, Asuka, Mari e Shinji, aqui neste terceiro o foco é todo para Shinji, suas dúvidas,
dilemas, culpas e sua relação afetiva com o misterioso Kaworu Nagisa onde ambos
desenvolvem uma forte amizade um pelo outro, que será para Shinji o único
alento que ele terá no mundo destruído após os eventos do segundo filme.
Poucos personagens, ambientes
lúgubres e permanente sensação de isolamento e calmaria dão a tônica sombria e
até depressiva desse capitulo, seu final é inconclusivo, uma vitória sem cara
de vitória, a extinção, que nunca pareceu tão próxima quanto nesse filme (nem
mesmo na série) não foi extirpada, somente adiada. Shinji, destruído psicologicamente,
Kaworu morto, Rei, tentando descobrir sua própria identidade, Mari, personagem
que não consta na história original, apesar de uma participação mais efetiva
nesse capítulo, ainda tem que demonstrar a que veio e Asuka (fenomenal como
jamais esteve na série original) assumindo a liderança do grupo sobre um
deserto de destruição do que um dia já foi a humanidade.
Enfim, um filmaço, verdade que o
dois é mais divertido, mas ainda assim esse terceiro episódio deu uma ótima
continuidade a história trazendo novas dúvidas e especulações para os fãs da
série que farão uma verdadeira masturbação mental de teorias que A+B será C até
o lançamento do quarto e último capitulo dessa história que, a conhecer o currículo
do diretor em questão, deixará mais dúvidas do que respostas.
2 comentários:
Para entender Evangelion Rebuild deve-se buscar assistir o anime Fushigi no umi no Nadia do Anno.
Ele faz nesse filme diversas homenagens ao seu primeiro grande que foi Nádia.
Wunder e sua tripulação foi uma carta de amor gigante para Nadia e o neo-Nautilus.
A personagem Mari Illustrious Makinami é para mim uma homenagem à órfã Marie criada por Jean e Nádia.
Misato se torna o capitão Nemo e a Ritsuko a Electra.
Assista esse anime e vc compreenderá melhor Rebuild.
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