Muita gente considera, meu amigo inclusive, essa como a melhor série de todos os tempos. É interessante pensar o que faz dessa série tão impactante para os fãs. Certamente um desse elementos é atuação fenomenal de Brian Cranston como Walter White evoluindo de um pacato, medroso e fracassado professor química e lavador de carros para um cruel assassino, sangue frio e temido chefe de tráfico Heisenberg. E seguindo a fórmula de sucesso de Conan Doyle, o personagem principal precisa de seu parceiro, esse é Jesse Pinkerman, personagem do qual vamos sentir pena, raiva, ódio, empatia, enfim uma miríade de emoções que cercam o parceiro de Walter, drogado, decadente, vivendo numa espiral de fracassos e a cada temporada ele tenta se erguer só para cair ainda mais fundo no poço escuro que é sua vida.
O drama não poderia estar completo sem o perseguidor implacável e o drama familiar, temos ambos reunidos num dos mais carismáticos e divertidos personagens da série Hank Schrader, implacável e competentíssimo agente da DEA, a divisão de combate ao narcotráfico dos Estados Unidos, também o tiozão do churrasco em casa, sempre tirando sarro, bebendo cerveja e fazendo piadas. Completando o drama familiar temos Skyler, esposa de Walter e única que conhece a vida secreta do marido, divida entre proteger o marido em nome da família e combater sua crise de consciência pelos crimes de seu marido. É através dela que vemos o quanto a personalidade de Walter vai se degradando ao longo dos episódios.
Os vilões da trama merecem um parágrafo a parte. A cada temporada temos um verdadeiro show na parte vilanesca da história, exceto na quinta. Tuco Salamanca, traficante mexicano, psicopata e a todo momento chapado, um dos personagens mais assustadores e loucos de todos. Seu exato oposto Gus Fringe, lidera a maior rede trafico dos Estados Unidos, sensacionalmente acobertados numa rede de Fast Foods chamada Los Pollos Hermanos, frio, calculista, sempre educado e elegante é um dos personagens favoritos da série, sua pose sempre ereta, seu vocabulário perfeito, seu sorriso elegante e olhos frios de assassino são uma imagens mais marcante da série, junto com a careca e cavanhaque de Walter White. Na lista ainda temos Mike, faz tudo de Gus, calado, mas mortal, frio e ao mesmo tempo vovô babão com sua netinha e por fim o resolve tudo Saul Goodman, advogado pilantra e fanfarrão, tão marcante que ganhou sua própria série.
A forma com que os criadores desenvolveram a série também é marcante. Walter é um gênio da química, mas sua caminhada para o mundo do crime não é fácil, pelo contrário é cheia de trapalhadas, algumas muito engraçadas, outras com consequências mais graves. Dramas familiares vão surgindo, bem como situações de violência extrema apresentadas hora de forma dramática, hora como humor negro, as decisões dos personagens hora te surpreendem, hora te enchem de raiva. Vários dos arcos têm finais frustantes, outros são sensacionais, de certa forma é uma série imprevisível. Situações absurdas também surgem para contrabalancear o hiper-realismo da série.
Também é importante frisar que o arco de evolução do personagem principal não é romantizado, somos colocados frente a um verdadeiro antiherói, em sua escalada no mundo do crime Walter White tomará decisões revoltantes, logo ele se torna de fato um vilão, ainda que os autores tenham minimizado isso com um final redentor, para mim infelizmente.
Enfim, um dos grandes méritos de Breaking Bad é conseguir criar um elo verdadeiro entre o espectador e seus personagens, cada um deles nos parece real, em suas qualidades e defeitos. Some a isso um enredo esperto, falas marcantes e imagens icônicas e estão aí os ingredientes de uma série que gostando ou não ficará marcada na sua mente.