"... o papai sempre me aconselhava: Você será adulto quando conseguir ser infinitamente carinhoso com aqueles que lhe são caros, e infinitamente cruel com os outros"
Até o momento em minha vida apenas dois quadrinhos conseguiram captar profundamente minha atenção e paixão, estes foram Evangelion em primeiro lugar e Eden em segundo. Entre os dois há um tema em comum, a vida da humanidade num mundo pós apocalíptico, ambos focando no drama de jovens heróis tendo que dar seu jeito de viver a vida sobre os escombros do mundo. Já a diferença entre ambos está na abordagem, enquanto Evangelion é uma ópera trágica com robôs gigantes, visuais surreais e repleto de metáforas, Eden é uma ficção cyber punk, suja e cruel mostrando como a necessidade de sobrevivência do ser humano suplanta toda questão ética e moral.
Eden chegou ao Brasil graças a editora Panini, lá em 2003, era lançado em formato simples, fininho, com regularidade mensal, daí quando as edições nacionais alcançaram as japonesas a coisa degringolou um pouco, começaram a chegar cadas vez mais espaçadas e com o tempo pararam totalmente, até que por fim, chegou a triste notícia do cancelamento em definitivo. Junto com Evangelion, Shaman King, foram os quadrinhos que marcaram minha adolescência (incluiria Full Metal Alchemist, mas a verdade dos fatos é que só gosto do primeiro anime que difere bastante do mangá) e são o conjunto de histórias às quais sempre retorno e nunca canso de ler.
Daí dá pra imaginar qual não foi minha alegria quando me deparei com um volumão enorme de Eden, lá estava ele, lindíssimo, condensado de duas edições japonesas num volume de mais de 400 páginas com a belíssima e poética capa mostrando o Enoah Ballad e Hanna Mayall, os dois personagens que dão a tônica do início da série e pais do herói principal Elijah Ballad.
Mas chega em enrolação vamos a história. Em 2086 uma peste se espalhou pelo mundo, o vírus Closer que petrifica todos os órgãos e tecidos do corpo humano e lentamente causando sua morte, ninguém sabe da onde veio o vírus, não há cura ou vacinas, sequer sabe-se ao certo como é transmitido, assim conforme o caos e o medo se espalham pelo mundo e conflitos territoriais e raciais geram guerras o vírus mata indiscriminadamente. Um grupo de cientistas refugiadas num Éden, uma instalação artificial independente que produz o próprio oxigênio, alimento e energia, um grupo de cientistas tentam descobrir uma forma de salvar o mundo. Entretanto nem todos pensam que o mundo deva ser salvo, uma sabotagem avaria o sistema independente e deixa entrar a atmosfera contaminada do exterior, assim pouco a pouco os próprios cientistas acabam sucumbindo ao virus, curiosamente, somente duas crianças parecem ser imunes a doença Enoah e Hanna. Enquanto isso. no mundo exterior onde o caos se espalha uma instituição surge e com ela a esperança da reunificação de um mundo fragmentado a Federação Propater. E isso é apenas o primeiro capitulo da história.
A ação se desenrola mesmo 20 anos depois quando o vírus, ao que parece, está controlado, o mundo começa a se reerguer das cinzas sob a bandeira da Federação Propater que substituiu todas as instituições vigentes no mundo, incluindo aí as Nações Unidas e, como sempre acontece, tornou-se totalistarista centralizando poder de várias nações. Alguns territórios recusam-se a se unir a Propater o que causa inúmeros confrontos, dentres os rebeldes está a Nômade, grupo guerrilheiro multiétnico que trava uma sangrenta guerra contra o poder bélico gigantesco da Federação. Nesse contexto aparece Elijah, filho mais velho de Enoah, que agora é um homem, não um qualquer, mas o maior chefe do maior cartel de drogas do mundo, o da Colômbia, e principal alvo da Propater, por motivos ainda não bem explicitados, só que, ninguém consegue encontrá-lo, Elijah se juntoa a Nômade enquanto tenta fugir da Propater que sequestrou sua mãe Hanna e sua irmã mais nova e por pouco não o capturou também! Há dois grandes interesses da Propater, o vírus closer e os genes imunes dos Ballard, e tentar descobrir os motivos desses interesses é uma das tônicas da série. A outra tônica são as inúmeras histórias paralelas que se intercruzam, os personagens e suas tragédias, as casualidades de um mundo violento que transforma seres humanos inocentes ora em vítimas ora em assassinos. Um mundo cruel onde ninguém está a salvo, um mundo onde o imperativo é manter-se vivo não importa quantos devam perecer para isso, um monde onde parece aceitável dizimar uma aldeia pelo simples fato que ela está no caminho de um grupo de soldados que contém uma informação que de modo algum pode cair nas mãos do inimigo. Esse o mundo de Eden.
Poderia escrever um texto com o dobro do tamanho sobre os personagens, mas a preguiça só me permite fazer algumas considerações sobre o principal Elijah, é o primogênito de Enoah e carrega nas costas a fama do pai, o maior chefe de trafico do mundo, um personagens que em muitos ângulos lembra Shinji de Evangelion, porém com todos os defeitos de personalidades corrigidos, o que não surpreende uma vez que o próprio autor disse que veio a vontade de escrever Eden após assistir ao anime de Eva, logo acho natural essa inspiração, Elijah é uma criança jovem, inocente, meio atrapalhado, mas, diferente do cúmulo da hesitação que era Shinji, ele não se furta a fazer o necessário. Daí que é interessante e trágico ver o amadurecimento do personagem que irá transformar ele de uma criança em um homem, frio e estrategista, como nunca cheguei ao fim do mangá, fica difícil dizer se ainda haverá algum resquício daquela inocência do inicio da história, será interessante descobrir.
Ainda outro ponto de interesse da série são os questionamentos filosóficos, morais e religiosos que permeiam a história. Eles surgem de forma natural e espontânea nos diálogos dos personagens, como, é possível acreditar em Deus num mundo onde tantos inocentes morrem? É possível acreditar nos humanos? É possível acreditar na paz? Olhando as notícias desse nosso mundo real, várias dessas questões não já passaram até mesmo pela nossa mente?
Enfim, Eden é um retrato de um futuro distópico onde a liberdade foi entregue ao um poder centralizador pelo medo de uma constante ameaça representada pelo vírus, onde alguns núcleos rebeldes tentam se impor sobre o poder bélico da Propater, nem sempre de maneira ética. Por fim, é a história de um mundo cruel contatada do ponto de vista daqueles que sobrevivem, não importando o que tenham de fazer para isso!
Tecnologia, violência, sexualidade, tramas paralelas que se cruzam e uma pitada de ficção científica surreal são a tônica dessa série mangá, que se você puder, eu recomendo que acompanhe! Eu certamente acompanharei, tudo de novo!
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