Em meados dos anos 90 Stephen King fez uma dobradinha literária com seu pseudônimo Richard Bachman, lançando meio que ao mesmo tempo os livros Desespero e Os Justiceiros, chamados livros gêmeos, pelo fato de contarem histórias diferentes, mas com os mesmos personagens e a mesma ideia de fundo, possessão humana por uma entidade chamada TAK.
Bem, obviamente nenhum dos dois livros virou lá um grande clássico na bibliografia do homem, que podem apostar já fez coisas bem mais interessantes na vida, por exemplo, no mesmo ano de lançamento de Desespero, 1996, ele lançou A Espera de Um Milagre, esse sim um clássico lindo e emocionante! Mas vá lá, ninguém é perfeito sempre, principalmente quando se escreve a ritmo industrial como King!
Não há ordem cronológica na leitura dos livros, mas na minha opinião desespero deve vir primeiro, isso porque é maior e mais completo e define o que seria a mitologia do vilão. A motivação inicial é ótima, um casal atravessa o deserto de carro pela rodovia mais solitária da América, quando se depara com um gato espetado numa placa de sinalização, não que isso tenha relevância pra história principal, é só um detalhe macabro. Logo eles conhecem Collie Entragian, um policial louco que os leva presos até a cidade chamada Desespero e descobrem que todos lá estão mortos exceto por um punhado de infelizes trancados na delegacia municipal e que serão os heróis da história. Não demora muito para eles perceberem que Entragian não é exatamente um ser humano, mas só uma carapaça que contendo um espírito ancestral chamado TAK, despertado das profundezas da terra enquanto a companhia de mineração local explorava uma velha mina abandonada.
Como disse um ótimo ponto de partida e a continuação também é bem legal, para enfrentar esse mal eles terão ajuda de um garoto milagreiro que tem contato direto com o próprio Deus! Se por um acaso vocês já leram A Dança da Morte já devem ter em mente mais ou menos como King trabalha essa questão, logo podem esperar uma dose maciça de religiosidade clichê no livro, a saber descrentes tendo suas convicções abaladas com milagres impossíveis, conversões, discursos de fé e coisas do gênero, se não lhe incomoda, siga adiante.
O livro é bastante extenso, há um preocupação não só em contar a história propriamente, mas em construir uma mitologia, tanto em relação a Deus quanto a Tak, ou seja, muitos flashbacks, interlúdios com histórias, sabem como é, todo mundo parado num lugar escondido e um dos personagens relatando "tudo o que sabe" e coisas do gênero. Nesse meio tempo a história vai se desenvolvendo até seu final com ares épicos e nobres sacrifícios aquela coisa toda. Clichê, clichê, clichê!
Então chegamos aos Justiceiros, livro de Bachman, mais curto, aliás bem mais curto, temos os personagens com o mesmo nome, mas com personalidades diversas e em situações diferentes, o vilão continua sendo Tak, ele continua vindo das profundezas da terra em Desespera, mas dessa vez não mata todas sua cidade natal, mas possui um garoto autista com incríveis capacidades mentais e através dele consegue fugir de seu esconderijo no subsolo, diferente de Desespero não há uma preocupação em definir o que seja Tak, sua mitologia ou sua história, a preocupação é mais simples como detê-lo.
A história é a seguinte: numa tarde de verão na rua dos Alamos todos cuidam de suas vidas suburbanas quando um furgão vermelho vem descendo a rua, das janelas do furgão um cano de espingarda aparece e logo ele trará a morte para a pequena rua, seus moradores descobrirão que não estão mais vivendo no mundo que conheceram, mas entraram num pesadelo real ao qual terão que sobreviver.
Richard Bachman é o pseudônimo que King criou para contar suas histórias mais pessimistas, logo Os Justiceiros é uma versão mais sombria de Desespero, enquanto aquele foi feito para ser um épico de terror (pelo menos foi a intenção, creio) esse é um livro bem mais direto, sangrento, impactante e, por que não, cruel! A solução final não é nem épica, nem bonita, é anticlimática, sangrenta, suja, sem redenção para seus personagens, embora eu acho que no fim King tenha tido um pouco de piedade de Cammie Reed, você vai sacar quando ler.
Se são livros gêmeos Desespero é o irmão que a vai a igreja e Os Justiceiros o irmão que se embebeda em bares de quinta categoria. Devo confessar que gostei mais do estilo do segundo.
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