segunda-feira, 13 de outubro de 2025

📚 5 Vantagens de Usar um Leitor de E-books: Por Que Vale a Pena para Quem Está Começando a Ler Digitalmente


Nos últimos anos, os leitores de e-books se tornaram aliados indispensáveis para quem deseja ler mais com praticidade. Se você está pensando em investir em um Kindle, Kobo ou outro modelo, saiba que essa escolha pode mudar completamente sua relação com a leitura.

A seguir, listamos cinco grandes vantagens de usar um leitor de e-books — especialmente se você está começando agora no mundo da leitura digital.

1. Praticidade e Portabilidade

Com um leitor de e-books, você pode carregar centenas de livros em um único dispositivo leve e compacto. Isso significa liberdade para ler onde quiser: no transporte, na pausa do trabalho, na praia ou durante viagens. Adeus ao peso das mochilas e pilhas de livros — o seu acervo inteiro cabe na palma da mão.

2. Leitura Confortável e Sem Cansaço Visual

Ao contrário das telas de tablets e celulares, o leitor digital utiliza a tecnologia e-ink (tinta eletrônica), que imita a textura do papel impresso. Essa tecnologia proporciona uma leitura confortável por horas, mesmo sob luz solar direta e sem reflexos. Modelos mais recentes, como o Kindle Paperwhite, contam ainda com iluminação ajustável, ideal para ler à noite sem forçar os olhos.

3. Economia e Acesso Instantâneo a Livros

Uma das maiores vantagens do leitor de e-books é a economia. Os e-books costumam ter preços mais baixos do que as versões físicas e há milhares de opções gratuitas ou em promoção em plataformas como Amazon Kindle Store e Kobo Books. Além disso, a compra é instantânea — em segundos você baixa e começa a ler.

4. Recursos Personalizáveis e Interativos

  • Ajuste de tamanho e tipo da fonte;
  • Dicionário embutido e tradução instantânea;
  • Marcadores, anotações e busca por palavras;
  • Sincronização com aplicativos de celular e tablet.

Esses recursos ajudam o novo leitor a personalizar a experiência, mantendo o foco e o conforto durante a leitura.

5. Sustentabilidade e Organização

Além de prático, o leitor de e-books é uma opção ecológica. Ao optar pelo formato digital, você reduz o uso de papel, transporte e armazenamento físico de livros. Seu acervo fica organizado digitalmente, ocupando zero espaço em casa — ideal para quem quer ler mais e acumular menos.

Conclusão: Ler Digitalmente É Mais Simples do Que Parece

O leitor de e-books é o companheiro ideal para quem deseja ler mais, economizar e aproveitar a tecnologia a favor da leitura. Com ele, você tem conforto, economia, praticidade e sustentabilidade — tudo em um único aparelho.

Se você ainda tem dúvidas, experimente baixar alguns livros digitais gratuitos e descubra como é fácil se apaixonar pela leitura digital!

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quinta-feira, 9 de outubro de 2025

De Seringal a Capital: A Transformação Urbana de Rio Branco

Da economia da borracha à capital moderna — a história da cidade que nasceu no coração da floresta amazônica.



Quando o cearense Neutel Maia subiu o Rio Acre, em 1882, à procura de terras férteis e novas oportunidades, ele não imaginava que ali estava lançando as bases de uma capital. O seringal “Empreza”, fundado por ele, seria o embrião do que viria a se tornar Rio Branco, uma das capitais da Amazônia Ocidental brasileira.

Essa trajetória — de entreposto da borracha a centro urbano regional — é contada em detalhes pelo geógrafo Ary Pinheiro Leite, em sua dissertação “A Evolução Urbana de Rio Branco (AC): De Seringal a Capital”, defendida na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O trabalho revela como as transformações políticas, econômicas e sociais moldaram a cidade ao longo de mais de um século.

O nascimento às margens do rio

No final do século XIX, o boom da borracha movimentava o coração da Amazônia. A demanda internacional pelo látex atraía migrantes de todo o país — principalmente nordestinos — para os seringais acreanos. Entre eles, estava Neutel Maia, que viu na curva do rio um ponto estratégico para instalar seu seringal e seu porto de comércio.

"Ia terminando o ano de 1882. O vapor Apihy subia o rio com esforço para suas máquinas e seus homens. Não havia paradeiro certo. O grupo de pioneiros estava entrando em território ainda indomado. [...] Procuravam principalmente, sinais das árvores mais cobiçadas da Amazônia: as seringueiras que generosamente ofertavam seu leite branco para enriquecer a multidão de nordestinos que começava a perseguir um futuro melhor e mais farto. Identificar terras ricas em seringueiras era, portanto, o principal objetivo de todos ali embarcados. [...] A bem da verdade, todas as terras cortadas pelo rio Acre eram muito ricas em seringueiras. Fazia tão pouca diferença estar aqui ou ali, que os sinais para a escolha de um lugar para se estabelecer podiam ser completamente lógicos ou mesmo bastante subjetivos. Como saber, então, o que atraiu a atenção de Neutel Maia e seus companheiros para aquela volta pronunciada do rio, apenas seis horas acima do Bagaço? Talvez tenha sido o estirão que revelava terras baixas em sua margem direita e terras altas à sua esquerda numa excelente composição para o desenvolvimento de direfentes atividades econômicas. Ou talvez tenha sido mesmo a presença de um grossa e ereta árvore bem a cavaleiro da curva do rio, perfeita para amarrar com segurança os cabos das embarcações e inexplicavelmente bela. Como saber? Pois foi ali, no dia 28 de dezembro (parece) de 1882, exatamente aos pés da imponente Gameleira que Neutel Maia resolveu fundar sua Empreza.

 

(Belíssimo texto de Marcus Vinicius Neves, 2007, citado por Ary Pinheiro Leite)


Assim nasceu o núcleo que daria origem à futura cidade de Rio Branco. Com o passar dos anos, o povoado prosperou, abrigando casas comerciais, barracões e pequenas embarcações conhecidas como regatões, que levavam e traziam mercadorias pelo rio.


A cidade recebeu diferentes nomes — “Empreza”, “Penápolis”, em homenagem ao presidente Afonso Pena e, finalmente, “Rio Branco”, em homenagem ao Barão do Rio Branco, diplomata responsável pela incorporação do Acre ao território brasileiro.

Da crise da borracha à consolidação da capital

O primeiro grande abalo veio em 1913, quando a concorrência asiática derrubou o preço da borracha e mergulhou a economia amazônica em crise. Em Rio Branco, a retração econômica foi compensada pela força do comércio sírio-libanês, que sustentou o dinamismo local e ajudou o povoado a resistir.

Em 1920, Rio Branco foi oficialmente escolhida para ser a capital do Território Federal do Acre. Surgiram então as primeiras obras de infraestrutura urbana: o Mercado Municipal, o Palácio Rio Branco e o Quartel da Guarda Territorial. Nas décadas seguintes, o governo territorial incentivou a criação das primeiras olarias e promoveu melhorias urbanas que deram nova fisionomia à cidade.



A Segunda Guerra e a Batalha da Borracha

Durante a Segunda Guerra Mundial, o bloqueio japonês à produção asiática de borracha reativou o comércio amazônico. O governo brasileiro convocou milhares de trabalhadores nordestinos — os “Soldados da Borracha” — para os seringais da região.

O crescimento populacional forçou o governo a criar colônias agrícolas em torno da cidade, que dariam origem a bairros como Aviário, São Francisco e Estação Experimental. Foi o início de uma expansão urbana que mudaria para sempre a paisagem da capital acreana.

Urbanização acelerada e novos desafios

A partir dos anos 1970, com as políticas de integração nacional da Ditadura Militar, o Acre recebeu um novo fluxo migratório. Agricultores e famílias do interior se mudaram para Rio Branco em busca de melhores condições de vida. O resultado foi uma explosão urbana: de 34 mil habitantes em 1970, a cidade saltou para mais de 200 mil em 1996.

Esse crescimento rápido, porém, trouxe problemas típicos das grandes cidades: ocupações irregulares, falta de infraestrutura, desigualdade social e favelização. Ainda assim, Rio Branco consolidou-se como pólo político e econômico da Amazônia Ocidental.


Da floresta ao concreto: o novo século

Nos anos 1980 e 1990, o comércio local se modernizou e novas empresas começaram a se instalar na capital. Já nos anos 2000, obras urbanas como o Parque da Maternidade e a revitalização do centro histórico simbolizaram uma nova fase de planejamento urbano e de valorização dos espaços públicos.

Hoje, Rio Branco combina tradição e modernidade (muito embora, tristemente, a tradição venha sendo cada vez menos valorizada por aqui). Seu traçado urbano guarda memórias do tempo dos seringais, mas também reflete a vida dinâmica e cada vez mais caótica de uma capital em crescimento — conectada ao Brasil e ao mundo, porém arrisca perder sua identidade amazônica.

Uma cidade que conta a história da Amazônia

A pesquisa de Ary Pinheiro Leite mostra que a história de Rio Branco é, na verdade, um espelho da própria história da Amazônia brasileira. Nascida do ciclo da borracha, moldada pela migração e transformada pela urbanização, a capital acreana sintetiza o desafio de crescer entre o verde da floresta e o cinza do asfalto.

“Rio Branco é o reflexo das contradições amazônicas: riqueza natural, desigualdade social e o desejo constante de modernizar sem apagar as raízes.” — Ary Pinheiro Leite, UFSC (2010)

 Para ler a tese de Ary Pinheiro Leite na íntegra você pode clicar no Link abaixo:

https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/93794

 

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Rosalina, Meu Amor de Antônio Stélio




Esta terra acreana já viu muita crueldade em sua história. Muito sangue foi e ainda é derramado por aqui. As histórias dessas crueldades, muitas delas, se perderam no tempo, no sofrimento e dizimação dos povos que aqui viviam e foram esquecidos. Outras histórias marcaram tão profundamente a população de sua época que extrapolam seu tempo e seguem vivas na memória da população ganhando o contorno de lendas. Uma dessas histórias foi, certamente, a da professora Rosalina da Silveira.

Rosalina viveu nessas terras na primeira metade do século XX, morava próxima ao que hoje é o prédio do Colégio de Aplicação e dava aulas na escola que ficava onde hoje é o Palácio das Secretarias. No caminho entre a casa e o trabalho ela tinha que passar pelo prédio da atual prefeitura da capital, porém na época o que funcionava alí era um presídio. Um presidío com janelas para a rua, através das quais era possível aos presos ver o movimento dos transeuntes e foi através dessas janelas que um preso de nome Lázaro, que desenvolveu uma paixão obssessiva pela professora. Mas esse sentimento não era correspondido pela moça, de fato, Rosalina, até o fatídico dia, jamais soube dos sentimentos de seu observador ou sequer de sua existência.

Num fatídico dia de 1941, Lazáro, pulando o muro do presídio ou fugindo durante a prestação de um serviço público ao qual os presos eram obrigados na época, foi encontrar-se com Rosalina enquanto estava indo para o trabalho e alí, no meio da rua, a esfaqueou até a morte. Diz-se que de ciúmes, pois a moça estava noiva de um militar da aeronáutica. Outras versões dizem que a trama era um pouco mais complexa que isso.

Essa trágica história é contada em seus detalhes no livro Rosalina, meu amor do escritor, poeta e jornalista acreano Antônio Stélio. A história aqui é contada em forma de novela onde o autor buscar elucidar o mistério dessa história. Aqui não se trata do quem matou, mas do por que matou. Algoz e vítima nunca tiveram um contato sequer, como então apenas olhadelas pela janela gerariam sentimento tão forte e poderosos num pessoa a ponto de matar a outra. É nesse ponto que entra na história Praxedes um jornalista que também seria apaixonado por Rosalina e rejeitado por ela o que dá a história traços ainda mais dramáticos uma vez que envolve ciúmes e vingança. Entretanto, apesar dos traços shakesperianos dessa história o novelista não consegue dominar totalmente o jornalista o que faz da escrita do livro muito direta, descritiva e remissiva a documentos formais e históricos como o inquérito elaborado sobre o caso.

Muito bem escrito e desenvolvido o livro é uma novelização de um fato histórico da cidade de Rio Branco. Todos os dias centenas, talvez já possamos dizer milhares de pessoas trafegam sobre o solo onde a histórica aconteceu e livros como Rosalina, meu amor não nos deixam esquecer da nossa história.

No início do texto, referi que algumas histórias ganham contorno de lendas, bem, dada sua morte trágica e violenta em uma idade tão jovem, Rosalina, que foi enterrada no nosso tradicional cemitério São João Batista, ganhou status de santa popular. Tradicionalmente pessoas procuram seu túmulo para fazerem pedidos ou simplesmente para prestarem homenagens, mesmo tantos anos após sua morte, mesmo sem sequer terem-na conhecido ou sua família, que se mudou do estado. A jovem professora foi alçada à alma milagreira devido a seu sofrimento em vida.

A prisão foi fechada tempos depois, transformada num hotel e depois na sede da Prefeitura de Rio Branco. A casa de Rosalina não se sabe onde era. O grupo escolar 7 onde ela lecionava hoje é o Palácio das Secretarias onde funcionam as secretarias de planejamento, administração e justiça, também é onde eu trabalho hoje em dia. Os fatos vivaram história e habitam hoje no imaginário desta terra.



Caso se interesse por adquirir esse livro o mesmo pode ser encontrado através do link abaixo:

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Sobre reinícios

 Em 2008 comecei esse blog porque na época eu queria ser escritor. Na época a internet ainda não estava tão focada no audiovisual, os vídeos do YouTube eram curtos e de baixa qualidade, Instagram ainda estava pra surgir, enfim a comunicação online era muito mais escrita do que hoje. Nas postagens do orkut ou do recem descoberto Facebook, nos batepapo online e chats era tudo escrito. Na época eu e muito dos meus amigos e pessoas famosas aderiram ao formato de blog, de notícias a diários pessoais tudo passava pelo blog. Mas o tempo passa, a internet melhorou, ficou mais rápida, o vídeo começou a substituir a escrita e hoje quase tudo que se transmite se transmite em canais do youtube, vídeos do TikTok, Reels do Instagram ou similares nas demais redes sociais. O blog foi sendo abandonado pela maioria, substituido por podcasts e video casts e agora, nesse preciso momento da história...


Eu resolvo retornar com esse blog.


Por dois motivos, um porque quero ler mais. Escrever mais e retomar um pouco desse hábito que eu quase esqueci. E aproveitando que já tenho esse espaço, pretendo continuar por aqui onde já tenho um certo histórico de escritas e a quem interessar possa você pode ler o que uma versão bem mais nova de mim gostava de escrever por aí. Hoje eu tenho um pouco de vergonha da maioria das coisas que escrevi no passado, mas enfim, como se disse na Bíblia, o que escrevi está escrito. Dois, porque me inscrevi como afiliado da Amazon e pretendo usar meus links de venda para divulgar livros que eu ler e usar esse link para recomendar a compra por aqui. Esse formato de vídeo não me apetece, então não presto pra vender livros no YouTube ou TikTok, mas quem sabe se eu usar a linguagem escrita para tentar vender obras escritas eu faço dar certo.

Quem sabe?

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Isso não é um treinamento


No dia 24 de outubro Roger Waters iniciou a etapa sul americana de sua turnê chamada This Is Not a Drill. Em tese esta é sua última turnê, muito embora outros artistas tenham feitos “últimas turnês” e depois retornado como se nada tivesse acontecido, porém, vamos partir da premissa que esta é a última vez que veremos este senhor de setenta e muitos anos fazendo sua digressão pelo mundo. Sob esse prisma podemos analisar este show como um misto de sentimentos tais como nostalgia, inconformidade, desespero e um fiapo de esperança.

Já antes do inicio do show Roger projetou um aviso em letras garrafais em inglês, português e espanhol: “se você é um desses tipos que amam o Pink Floyd, mas não suportam as posições políticas de Roger Waters, você pode ir embora pro bar agora”. Sim, todo show de Roger Waters é essencialmente político e sim, para o ódio de direitistas, conservadores e sionistas o músico irá utilizar os clássicos do Pink Floyd para atacar o governo dos EUA, para defender os direitos de pessoas trans e denunciar o genocídio na Palestina.

Musicalmente falando Waters entrega um show muito similar ao que ele já vem fazendo desde que saiu de sua banda mais famosa uma mistura de músicas autorais e músicas do Pink Floyd, algumas relidas outras exatamente nos mesmos arranjos. Mas aqui tivemos algumas novidades. O show abriu com Confortably Numb, um clássico do Floyd geralmente guardado pros momentos mais apoteóticos, mas aqui ela aparece numa versão sombria e lenta, totalmente cantada por Roger Waters (para aqueles que não conhecem, essa música é um dueto com David Gilmour) e sem os clássicos solos de guitarra de Gilmour. Não dá pra deixar passar despercebido o fato da relação entre o guitarrista do Floyd e Waters ter azedado mais que leite velho nos últimos anos, com Gilmour e sua esposa inclusive chamando publicamente Waters de antissemita por suas posições contra Israel. Os solos de David Gilmour em Confortably Numb são uma das marcas mais reconhecidas do Pink Floyd, achei ousado e até um pouco afrontoso Waters retirar isso da música, mas por incrível que pareça, no contexto do show, isso funciona.

O que me traz a outro ponto. Ainda que se possa dizer que Waters vive de reproduzir em 80% de seus shows a produção de sua antiga banda, nunca é uma coisa totalmente gratuita. É claro que Waters sabe que ninguém iria num show em que ele não tocasse os clássicos do Pink Floyd, mas sabendo disso, é legal ver como ele, a cada show, procura sempre ressignificar essas canções para transmitir uma mensagem atual.

Se na turnê anterior (US+Them Tour) o alvo era claramente o ex-presidente Donald Trump, nessa atual todos os presidentes americanos, de Ronald Reagan até Joe Biden (incluso aí o queridinho Obama), foram tratados como o que realmente são, criminosos de guerra. Se a turnê anterior era um grito contra a ascensão do fascismo no mundo, nesta é uma denúncia de como esse fascismo está imposto, como ele desumaniza povos e minorias e consequentemente os extermina, bem como àqueles que ousam denunciar seus crimes. Nesse ponto do show são lembrados os diversos assassinatos de negros, árabes, perseguições a jornalistas e políticos (o assassinato de Mariele Franco foi lembrado nesse ponto, bem como o aprisionamento de Julian Assange).

Na sua parte nostálgica, o show relembrou por meio das músicas do disco Wish You Where Here do membro que junto com Waters sonhou o Pink Floyd, Syd Barret. Aqui cabe um adendo pra quem não conhece a história: Syd Barret foi a principal força criativa do Pink Floyd desde sua fundação até a gravação do primeiro disco, após isso Barret sofreu uma série de problemas relacionados ao uso excessivo de drogas que basicamente lhe destruíam fazendo com ele fosse expulso da banda em 1968. Ele nunca se recuperou, viveu esquecido na sombra do sucesso da banda que fundou até sua morte em 2008. Agora voltando ao show. Fotos antigas da banda foram projetadas nos quatros telões gigantescos do show: os jovens Roger Waters, Syd Barret, Richard Wright e Nick Manson, os quatro membros fundadores do Pink Floyd. Novamente David Gilmour foi boicotado, apareceu em meros flashes de fotos do grupo onde não tinha como escondê-lo, mas não tem como não notar o rancor de Waters com o ex parceiro de banda. Acho triste essa briga de egos. Syd foi um marco na época mais romântica do Pink Floyd, isso é fato, no seu início, no sonho de serem astros de rock, mas é inegável que nos discos e musicas que tornaram o Pink Floyd uma lenda do rock era a guitarra e voz de Gilmour que estava lá e é fato também que sem ele o Floyd não teria nem metade do tamanho que tem hoje em dia.

O segundo ato do show foi totalmente político, foram utilizadas músicas do The Wall, The Dark Side of The Moon e The Final Cut para transmitir a mensagem antiguerra de Waters. Denúncia ao genocídio na Palestina, a ameaça cada vez mais crescente de uma guerra nuclear e um fio de esperança na resolução dos conflitos por meio do diálogo. In the Flesh e Run Like Hell do disco The Wall foram tocadas em conjunto com mensagens que denunciam a violência do fascismo. Já Money, do disco Dark Side, surge como uma crítica à burguesia capitalista, Us and Them clama pelo fim do preconceito e da divisão entre as pessoas, o que leva diretamente à Any Color You Like uma celebração da diversidade de culturas, gêneros e povos do mundo, Brain Damage e Eclipse fecham, numa reunião apoteótica, todos esses conceitos unindo-os pelo prisma e as coras do arco íris. A música fecha unindo todas as contradições da humanidade no verso "tudo sob o sol está em sintonia, mas o sol foi eclipsado pela lua". 

Nessa segunda parte os arranjos do Pink Floyd foram tocados no original, incluindo com Waters dividindo os vocais com seu guitarrista Jonathan Wilson, que aliás tem um timbre bem similar as gravações originais de David Gilmour.

Após a apoteose que é Eclipse o show tem um encerramento quase melancólico. A banda numa versão quase acústica executa Two Suns In The Sunset, música de encerramento do disco The Final Cut onde um personagem voltando para casa ao entardecer com o sol se pondo atrás de si se depara repentinamente com um segundo sol a sua frente e antes de morrer no holocausto nuclear que começou ele reflete como, no fim, todos, amigos ou inimigos, são iguais perante a morte. Mas há um fio de esperança com The Bar uma balada que imagina um lugar onde as pessoas podem se encontrar e conversar sem medo e assim resolver seus problemas. Por fim, Outside The Wall tocada apenas com tambores, instrumentos de sopro e piano fecha o show. No disco original (The Wall) essa música representa a possibilidade do personagem estabelecer conexões reais com as pessoas a sua volta fora de sua bolha. No show e para nós representa basicamente o mesmo.

Parabéns se você leu até aqui e para encerrar esse texto eu vou dizer que eu amei esse show e que eu amo esse artista, mesmo com seus vários defeitos (Roger Waters tem um sério problema de EGO inflado, messianismo ou o que for) e suas inúmeras contradições. Mas isso só o torna um ser humano como todos nós. Acho admirável como Waters se posiciona muito claramente, sem meias palavras, sem tergiversações sobre aquilo que acredita. This Is Not a Drill denunciou claramente o genocídio na Palestina, clamou pelos direitos dos povos indígenas, dos negros, das pessoas trans, dos direitos reprodutivos (sim, ele abertamente defende o direito ao aborto). Chamou os presidentes americanos de criminosos de guerra, chamou Zelensky de irrelevante, homenageou Julian Assange e Marielle Franco, criticou em letras garrafais o Capitalismo, tudo isso usando as músicas do Pink Floyd. E o que eu mais adoro nele é que ele faz isso de uma forma que não dá pra disfarçar, não são mensagens sutis, subliminares ou diluidas em esoterismos, o posicionamento político dele está em letras garrafais no seus telões, sendo impossível você assistir o show e ignorar: ou você vibra e concorda ou você se treme de raiva por discordar.

Roger é um artista que irá marcar sua presença na história da música pop, para o bem e para o mal, se esta for realmente sua última turnê eu desejo fortemente que para as gerações futuras surja um artista com a mesma fibra, ousadia e coragem de defender o que acredita e que este hipotético artista defenda o que é o correto: no fim, todos somos feitos da mesma matéria, por que não podemos todos ser felizes então?