Vinte e cinco anos depois de seu
último disco de rock e aos 73 anos de idade Roger Waters continua inconformado.
Ele esteve inconformado nos anos 70 quando fez "The Wall", ele esteve
inconformado nos anos 80 quando fez "The Final Cut" e "Radio Kaos", ele esteve inconformado
nos anos 90 quando lançou "Amused to Death" e agora, na segunda década do século
XXI o baixista do Pink Floyd continua inconformado.
Inconformado com a situação dos
refugiados, inconformado com Israel, de fato, puto da vida com Trump, e,
provavelmente e acima de tudo, inconformado com o fato de, depois de ter
passado os anos 80 sob a sombra dum holocausto nuclear (vide os finais trágicos de Final Cut e Radio Kaos), as pessoas ainda terem de viver com medo.
Essa é a vida que realmente queremos? Pergunta
o músico já no título de seu novo disco, provavelmente o título mais relevante
que ele poderia dar nos dias atuais. Primeiramente é bom ressaltar que o novo
disco de Waters é um disco político, seu questionamento não é filosófico, não
trata de questões introspectivas, mas sim de temas atuais e certeiros,
sendo que o principal deles ainda é o medo como guia da vida moderna.
“Fear, fear drives the mills of modern man
Fear keeps us all in line
Fear of all those foreigners
Fear of all their crimes
Is this the life we really want? (Want, want, want, want)
It surely must be so
For this is a democracy and what we all say goes”
Fear keeps us all in line
Fear of all those foreigners
Fear of all their crimes
Is this the life we really want? (Want, want, want, want)
It surely must be so
For this is a democracy and what we all say goes”
O discurso poderia soar datado, não
muito diferente dos seus discos dos anos 80, mas soa totalmente atual e
plausível para os nossos dias. O próprio músico parece perceber isso,
já que após uma breve introdução “When we were Young” a faixa seguinte a abrir os disco se
chama “Dejá Vú” cuja letra é a gêmea mais sarcástica e amarga de “If” dos
tempos do “Atom Heart Mother”. Já “The Last Refugee” tem a beleza
cinematográfica aliada à dureza lírica que havia em “The Final Cut”.
Em vários momentos a sonoridade deste
disco remete tanto a "Final Cut" quanto a "Animals" dois grandes discos politizados
da época do Pink Floyd, “Smell the Roses” por exemplo encaixa-se perfeitamente
no estilo do segundo.
A trinca final são três canções de
acento folk conectadas entre si, tanto tematicamente quanto melodicamente, são
mais melódicas e leves e, diferente do que faria o Waters dos anos 80, terminam
o disco com um toque mais esperançoso.
O disco pode até não alcançar o
patamar dos clássicos do Pink Floyd (pra mim faltou só uma certa guitarra pra isso, nós sabemos bem de quem), mas com certeza é um dos discos mais relevantes
desse ano. Roger Waters é daqueles que ainda creem no poder da música como um
catalisador de mudanças e se a mudança não vier, pelo menos é a trilha sonora mais bela que podíamos
ter pra nossa decadência. Ouça!
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