Metal é música pesada, barulhenta
e muito estimulante. A maneira clássica de curtir o heavy metal consiste em
usar preto, fazer cara de mal, bater cabeça, no caso balança-la o mais
violentamente possível para cima e para baixo e por fim o mosh, jogar-se e
bater-se contra os outros fãs com a maior força possível (mas na paz, fique bem
entendido). Em resumo, essa é a imagem consagrada de como curtir de maneira
saudável um bom show de metal.
Porém, há espécies de metal que
convidam a outro tipo de postura, mas calma e contemplativa. Curioso notar que
tal tipo de heavy metal ocorra justamente na sua vertente mais extrema e
sombria, o Black Metal. É o caso, cite-se como exemplo, do Burzum, projeto de
Varg Vikernes, uma das figuras mais controversas do metal, se não da música
como um todo, sua proposta nunca foi esse metal citado no primeiro parágrafo,
tanto é que ele jamais fez sequer um show ao vivo, aliás jamais tocou Burzum ao
vivo, exceto em uma série de vídeos curtos onde ele toca versões de “acústicas”
de suas músicas numa guitarra elétrica desplugada na frente de seu computador.
O objetivo de Vikernes com o Burzum era criar um outro estado, seus álbuns eram
planejados para uma audição solitária, concentrada, que em tese, levaria o
ouvinte a outro estado de consciência fazendo-o experimentar de fato o que era
tocado nas canções. Para causar esse efeito ele combinou o peso e distorção à
uma estrutura de música ambiente com músicas longas, riffs repetidos à exaustão
e lentas variações nos ritmos, tornando a música pesada quase num fundo musical
para medição. Certamente uma meditação muito mais sombria do que aquela
proposta pelo Yôga ou Mindfulness, mas ainda assim uma meditação.
A mesma sensação que me trouxe o
Burzum, também senti no trabalho de uma nova banda brasileira de Black Metal
chamada Motherwood. Não à toa o Burzum está entre as influências citadas na
página da banda, junto com Opeth, Emperor e outras. Eles lançaram um Ep chamado
Sadness cuja canção título ganhou um belíssimo clipe. A música é um black metal
pesado executado com maestria as influências das bandas citadas fazem-se sentir
em sua música longa, com riffs de guitarra repetindo-se criando uma música ambiente
sombria que casa com o tema proposto: a agonia da natureza perante à
ação do homem. O vídeo é ilustrado com lentas imagens panorâmicas em preto e
branco de florestas o que ajuda na imersão. Uma canção que apesar de tão pesada quanto qualquer Heavy
Metal convida mais à contemplação do que a “bateção” de cabeça.
Confira:
O que me lembra de outro clipe.
Esse do ano passado, de uma banda francesa mais voltada par ao Trash Metal.
Para mostrar que heavy metal de contemplação não ocorre apenas no Black. É a
música Low Lands do Gojira. Sua construção é mais similar ao Trash Metal, ou
seja, numa comparação aqui estaríamos mais próximos do Metallica que do Burzum.
Mas há também aqui elementos que dão um ar de música ambiente a Low Lands,
casados com imagens belíssimas, oníricas. Foi um dos clipes mais bonitos que vi
no ano passado e agora compartilho aqui.
Verdade que nos minutos finais
Low Lands perde essa aura contemplativa e caí num trash pesadão, mas até lá
ouça e viaje nas belíssimas imagens que se descortinam a sua frente.
Enfim, trago esses dois clipes só
pra demonstrar que metal é peso e é brutalidade, mas também é contemplação e
beleza.
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