terça-feira, 2 de julho de 2013

JON LORD CONCERTO FOR GROUP AND ORCHESTRA um legado para a música

Foi há 44 anos que um Deep Purple ainda jovem com um recém chegado Ian Gillan reuniu-se no Royal Albert Hall com a Royal Philharmonic Orchestra num grande concerto que misturava música clássica e rock, esse show terminou com a execução de uma peça escrita pelo tecladista da banda, Jon Lord, chamada de Concerto For Group and Orchestra onde banda e orquestra dialogavam, ou melhor, digladiavam-se num feroz embate entre música erudita, rock e blues. O resultado foi um disco ao vivo que por muitos anos foi o único registro desse espetáculo, pois nos anos 70 as partituras do Concerto foram perdidas acabando com as possibilidades de realizarem novamente a performance por anos.

Porém, em 1999 a partitura foi restaurada por Marco de Goeji e novamente Jon Lord e o Deep Purple executaram a obra no Royal Albert Hall, dessa vez ao lado da London Symphony Orchestra, conduzida por Paul Mann, contando ainda com a participação especial de diversos artistas, dentre eles o saudoso Dio. Esse show foi registrado num DVD chamado Deep Purple In Concert, o segundo registro ao vivo da peça.

Os anos se passaram, até que em 2011 Jon Lord resolveu, em parceria com Paul Mann fazer um novo registro de sua peça, mas dessa vez um registro em estúdio, um Concerto For Group and Orchestra definitivo. Para isso foram realizadas algumas alterações como, por exemplo, a falta de uma banda específica para tocar em conjunto com a orquestra, convidados diversos foram chamados para serem os solistas do concerto: Brett Morgan na Bateria, Guy Pratt no baixo elétrico, o próprio Jon Lord nos teclados e órgão, e a guitarra foi divida entre três guitarristas, um para cada movimento, Darin Vasiliev no primeiro, Joe Bonamassa no segundo e Steve Morse no terceiro. O trecho cantando do segundo movimento, foi divido entre três vocalistas, um dueto entre Steve Balsamo e Kasia Laska cantaram a primeira estrofe e Bruce Dickinson cantando solo a segunda estrofe, numa performance espetacular devo dizer. Conforme o maestro Paul Mann essa decisão foi tomada para que se pudesse apreciar a obra por ela mesma e não dar um caráter personalista como aconteceria caso o Deep Purple executasse as partes elétricas novamente. A parte sinfônica foi executada pela Royal Liverpool Philharmonic Orchestra, conduzida por Paul Mann.

O Concerto for Group and Orchestra é uma peça que se divide em três movimentos, o primeiro Moderato-Allegro, que começa o concerto de forma majestosa num diálogo harmônico entre os instrumentos de corda e os de sopro, a música segue como uma típica peça erudita, aos poucos vai deixando o tom majestoso e entrando num ritmo mais alegre quando então é subitamente interrompida pelos instrumentos elétricos, que tomam a frente na execução destilando um típico hardrock setentista com a guitarra e órgão Hamond de Lord esbanjando virtuosismo em solos frenéticos, a orquestra volta se impor e por um instante a música clássica volta a dominar o cenário, mas logo o rock retorna aproveitando uma pequena deixa da orquestra e assim ambos os estilos permanecem nesse duelo até o final dramático do primeiro movimento.

Começa então o Segundo Movimento, Andante, mais calmo e silencioso, aqui a orquestra executa uma música suave, cadenciada. Novamente o clássico está em evidência, mas não tardará para o rock fazer sua interferência, dessa vez de maneira mais discreta, é quando entra os primeiros vocalistas cantando:

How can I see When the light is gone out
How can I hear When you speak so silentlyMore than enough Is never too muchHold out a hand I'm so out of touchDo unto me As your heart would have you doLooks on my head Cannot get the message throughSword in my hand Can cut through the woodPeace in my heart Can summon the mood


Esses versos, que ilustram a insegurança do cantor ante a enfrentar o palco e platéia durante o show, foram escritos por Ian Gillan e cantados por ele nas performances ao vivo do Concerto, aqui essa estrofe é divida entre os vocalistas Steve Balsamo e Kasia Laska que dão um ar gospel à música, mas ainda assim enfatizando a agonia do vocalista, volta a orquestra apenas para executar um pequeno interlúdio com um tema que da ainda mais dramaticidade a estrofe cantada. A banda volta executando um blues e o vocalista canta com mais intensidade como se sua agonia tivesse apenas aumentado:

What shall I do When they stand smiling at me
Look at the floor And be oh so cool
Oh so cool
How shall I know When to start singing my song
What shall I do If they all go wrong
What shall I do

Aqui temos a performance arrasadora de Bruce Dickinson cantando lindamente em sua rápida, porém notável aparição, o blues segue até ser novamente substituído pela orquestra que mantém a música em tons baixos encerrando de forma sombria o segundo movimento.

O Terceiro Movimento, Vivace-Presto, começa ligeiro, temos nesse movimento não um duelo entre o clássico e o rock, mas uma junção dos instrumentos elétricos e acústicos que aparecem trabalhando juntos. Tudo segue agitado até que um repentino e arrasador solo de bateria interrompe todos os instrumentos e se impõe no cenário. Passado o solo banda e orquestram voltam a dialogar criando um som frenético com tensão crescente e ao chegar ao clímax, de maneira súbita, encerram o concerto.

E então é o silêncio, a contagem do tempo termina, o disco para de girar no player e a vontade que fica é de embarcar novamente naquela viagem sonora.


Jon Lord não viveria muito após a conclusão de sua obra, teria ele pressentido isso? Teria ele deixado Concerto for Group and Orchestra como seu presente de despedida para o mundo? Não sei, mas sei que ele deixou um verdadeiro legado para o Rock’n Roll e para a música em geral. Tenho certeza que bandas e orquestras ainda subirão ao palco muitas vezes no futuro para executar esse Concerto. Obrigado Jon e descanse em paz!

domingo, 28 de abril de 2013

Evangelion 3.33 You Can (Not) Redo



 "Perdão, essa não era a felicidade que você queria" - Kaworu Nagisa

Para aqueles que não acompanham a série, vale uma pequena introdução. Neon Genesis Evangelion foi uma série de animação japonesa surgida em meados dos anos 90 com direção de Hideaki Anno, a serie contou com 26 episódios e dois longas metragens, realizados ainda naquela década, onde o primeiro, Death and Rebirth se tratava de um “resumão” dos episódios anteriores e o segundo The End of Evangelion era a tão esperada conclusão épica da série. Evangelion é basicamente duas coisas, uma série sobre robôs gigantes, famosíssimas no Japão, e uma das visões mais originais sobre o Apocalipse onde o destino do mundo é colocado na mão de crianças problemáticas e manipulado conforme um plano milenar (os Manuscritos do Mar Morto) regido por uma organização/seita religiosa, sombria. Não vou entrar em detalhes aqui, há farto material espalhado pela internet.

Mas enfim, os anos 90 passaram, Anno se envolveu em outros projetos, destacando dois, uma comédia romântica escolar (Karekano) e uma minissérie de humor “non-sense” (FLCL), veio uma nova década e já perto do fim dessa nova década, lá por 2007 ou 2008, Anno anuncia que voltará a trabalhar em Evangelion, não uma continuação (esperada por alguns, temida por outros), mas sim uma revisão, uma reconstrução de sua série original, utilizando nela todos os recursos que não existiam no século 20, e tal revisão seria feita em quatro longas metragens que receberiam o nome Rebuild of Evangelion.

Desde então dois filmes foram lançados: Evangelion 1.1 You Are (Not) Alone e Evangelion 2.22 You Can (Not) Advance, que não apenas incrementaram a história com efeitos visuais e sonoros de ponta, animação caprichada e CG de bom gosto, mas também reescreveram a história original de uma forma que nem o mais fanático dos fãs pudesse prever o final. Isso levou muitos fãs ao delírio a uma espera ansiosa pelo próximo capítulo, atrasado por diversas situações, incluído aí o terrível terremoto que devastou o Japão recentemente. É sobre esse capítulo que esse artigo se refere.

Mas peço a paciência do leitor para mais uma observação. É preciso ressaltar que Evangelion 1.1 foi basicamente uma remake dos primeiros capítulos da série acrescentado de mais algumas novidades que indicavam que a serie iria tomar um rumo diferente. Já Evangelion 2.22 pegou tudo o que você já sabia sobre a série e embaralhou de vez numa trama quase que 100% inédita, mas ainda assim havia muitas referências a acontecimentos da série.

Isso não acontece em Evangelion 3.33 You Can (Not) Redo, temos aqui um capitulo 100% inédito, nada do que é mostrado aqui aconteceu na série, é um rumo totalmente diferente e sabe-se lá o que irá acontecer quando isso tudo terminar. Esse a meu ver é o maior mérito desse novo capítulo da série, resgatar aquela boa e velha sensação de não saber o que vai acontecer. Se os capítulos anteriores com suas similaridades com a série original serviu pra cativar os saudosistas essa segunda metade da história vai saciar (ou não) aqueles que tinham fome de algo inédito relacionado à série.

No aspecto técnico o filme é excelente, efeitos e trilha sonora, animação, CG, fotografia, enfim todos os aspectos estão excelentes. O filme esbanja teatralidade em suas cenas, exemplos: os vários movimentos obviamente desnecessários que eles fazem pra controlarem os robôs, sons no espaço, a destruição em massa de cidades e prédios e até mesmo uma montanha de crânios, sabe-se lá de onde vieram, são alguns dos exageros propositais que eu tanto gosto nesse filme e o fato de tudo ser uma animação ajuda a não tornar esses exageros em cenas ridículas, até a cena mais surreal acaba ocorrendo de forma natural através do filme.

Já o roteiro do filme pode desagradar alguns, Eva 3.33 é mais lento que seu antecessor o frenético Eva 2.22, as cenas de ação concentram-se basicamente no início do filme e no final, ao contrário do filme anterior onde o foco estava nas quatro crianças pilotos Rei, Asuka, Mari e Shinji, aqui neste terceiro o foco é todo para Shinji, suas dúvidas, dilemas, culpas e sua relação afetiva com o misterioso Kaworu Nagisa onde ambos desenvolvem uma forte amizade um pelo outro, que será para Shinji o único alento que ele terá no mundo destruído após os eventos do segundo filme.

Poucos personagens, ambientes lúgubres e permanente sensação de isolamento e calmaria dão a tônica sombria e até depressiva desse capitulo, seu final é inconclusivo, uma vitória sem cara de vitória, a extinção, que nunca pareceu tão próxima quanto nesse filme (nem mesmo na série) não foi extirpada, somente adiada. Shinji, destruído psicologicamente, Kaworu morto, Rei, tentando descobrir sua própria identidade, Mari, personagem que não consta na história original, apesar de uma participação mais efetiva nesse capítulo, ainda tem que demonstrar a que veio e Asuka (fenomenal como jamais esteve na série original) assumindo a liderança do grupo sobre um deserto de destruição do que um dia já foi a humanidade.

Enfim, um filmaço, verdade que o dois é mais divertido, mas ainda assim esse terceiro episódio deu uma ótima continuidade a história trazendo novas dúvidas e especulações para os fãs da série que farão uma verdadeira masturbação mental de teorias que A+B será C até o lançamento do quarto e último capitulo dessa história que, a conhecer o currículo do diretor em questão, deixará mais dúvidas do que respostas.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

GHOST



Quando conheci a banda sueca Ghost ela já era famosa e sucesso de crítica na maioria dos sites que acompanho, mas nunca tinha me chamado a atenção, a maquiagem do vocalista e as vestimentas do resto da banda me fizeram pensar que se tratava de mais uma dessas bandas de Black Metal revoltadas com Deus e fazendo um som extremo com vocal gutural e uma bateria na velocidade da luz. Sorte minha que um amigo (valeu Oscar) me indicou a banda e me esclareceu do que se tratava, fiquei curioso, fui procurar e conheci uma das minhas bandas favoritas da atualidade.

Apesar de ser recente, estrearam em 2010, o Ghost faz um som que poderia muito bem ter surgido na década de 70, não há traços de modernidade aqui tudo soa bastante datado, embora seja muito bem produzido. O vocalista apesar da aparência externa, um papa satânico, canta com uma voz limpa e até mesmo lírica em alguns momentos. O som não tem palhetadas distorcidas, efeitos eletrônicos ou coisas do gênero, ao contrário, bebe de fontes como o rock progressivo, hard rock e o Heavy Metal dos anos 70, tendo até mesmo traços de pop, tornando a música agradável e acessível para todos os ouvidos, ou seja, não precisa ser um fã de metal pra ouvir Ghost.

O que talvez possa complicar ao possível ouvinte uma audição de Ghost são suas letras, descaradamente (e até mesmo ridiculamente) satânicas. Na verdade, são letras bem ingênuas, um crítico descreveu-as como algo que um adolescente rebelde poderia ter escrito pra irritar sua professora de religião. Aí é que está a diversão, o Ghost une talento e técnica em composições belíssimas que destoam completamente do discurso repugnante de suas letras e fazem tudo isso sem pretensão alguma. Não há discursos filosóficos ou exortações contra cristãos, não há críticas a Deus ou a Igreja, enfim é um satanismo “inocente” voltado ao mero entretenimento.

Ghost não é uma banda que se deva ouvir com pretensões intelectuais ou ainda em busca de algo novo, original, o que temos é uma volta ao passado com fortes influências de bandas como Black Sabbath, Coven, Blue Öyster Cult, dentre outras. Escute Ghost com o mesmo espírito com o qual você assistiria a um bom filme de terror, sem grandes pretensões, assim sendo será diversão garantida.

O Ghost tem atualmente dois discos lançados: Opus Eponymous de 2010, mais cru e setentista e Infestissuman de 2013, mantendo a identidade setentista, mas com adição de elementos do Pop, ambos excelentes, audições mais que recomendadas. Caso queria conhecer mais sobre esses discos e sobre a banda em si indico as excelentes resenhas de Ricardo Seelig da Collector’s Room.


Infestissuman: http://www.collectorsroom.com.br/2013/04/ghost-bc-critica-de-infestissumam-2013.html

Atualização
Comentário do Oscar Vareda: "- se o ghost fosse um filme, seria "the evil dead": bem feito, despretensioso e divertido pra caralho".

domingo, 7 de abril de 2013

RESENHA: Ōkami Kodomo no Ame to Yuki (おおかみこどもの雨と雪?)

Assisti ontem a noite esse incrível filme de animação japonesa Okami Kodomo no Ame to Yuki. O filme começa como um romance bobo entre uma jovem estudante universitária, Hana e Ookami, aquele cara bonito, meio desleixado e misterioso, como quem guarda um grande segredo. E o segredo era, o cara era um lobisomem, mas a garota não se importa e eles começam a viver uma história de amor.

Eu sei, mais parece uma das abominaveis histórias de Stephenie Meyer, mas não é, porque a história de verdade não começa aí, começa quando esse amor acaba gerando dois filhos, ambos lobisomens como o pai, e este acaba morrendo num acidente tolo, enquanto estava transformado em lobo. Hana encontra o corpo do seu amado sendo jogado na traseira de um caminhão de lixo como um cachorro de rua qualquer.

A partir de então Hana tem um desafio, criar seus filhos sozinha num mundo que não pode saber de sua existência e tendo que lidar com os institnto meio humanos meio caninos das crianças, a mais velha e extrovertida Yuki e o medroso Ame.

Acaba virando um filme sobre os desafios da maternidade e também sobre crescimento e maturidade, interessante ver como as crianças vão mudando conforme o passar do tempo, Yuki que parecia mais inclinada a ser um lobo que uma humana acaba se integrando cada vez mais a sociedade deixando para trás seu lado animal, enquanto Ame, que era o mais medroso, acaba escolhendo a vida selvagem de um lobo e se afastando cada vez mais do convívio humano.

Hana também acaba amadurecendo, ficando cada vez mais forte e confiante, enfrentando todas as adversidades de sua nada fácil vida sempre com um sorriso no rosto. Parece piegas, mas no filme tudo soa muito natural e a nossa simpatia por Hana é quase instantânea.

A animação é de alta qualidade, feita pelo Studio Shizou em parceria com o famosíssimo Madhouse (o mesmo de Death Note, Trigun, Claymore, dentre outros), pelo menos para os fãs de anime. O desenho dos personagens ficou a cargo de Yoshiuki Sadamoto, o mesmo que desenhou os personagens de Evangelion e a direção está a cargo de Mamoru Hosoda, que dirigiu alguns filmes de Digimon, não que isso seja lá um mérito, mas esse com certeza é seu melhor filme, dentre os que eu conheço pelo menos.

Recomendado, assista.

domingo, 10 de março de 2013

Resenha: Se um viajante numa noite de inverno...


Sempre é bom começar um ano com um bom livro, no meu caso esse livro foi “Se um viajante numa noite de inverno...” de Ítalo Calvino. Um livro fantástico, original, metalingüístico, pós-moderno, além de muito divertido. O tema principal é a leitura, mais precisamente o amor a leitura, o personagem principal, o grande herói, o próprio leitor. Basicamente o livro é a odisséia de um leitor aflito que não consegue terminar de ler um livro e acaba vivenciando situações kafkianas ao tentar de todas as formas possíveis terminar de ler uma história.

Tudo começa quando o leitor vai a loja comprar o novo livro de Italo Calvino, ao chegar em casa e começar a leitura fica estupefato ao perceber que, por um erro de impressão o livro só vai até a página 30, todo o resto é repetição do que já foi lido nas mesmas páginas, assim entra o leitor num labirinto de situações estranhar, personagens bizarros e conspirações malucas, além de várias e várias histórias incompletas, cada uma fazendo parte de um estilo literário, perpassando pelo policial, suspense, aventura, romance, erótico e até mesmo um conto apocalíptico e surreal de encerramento, além de diversos outros.

No meio de toda essa confusão, Calvino trabalha a leitura, o amor pelos livros, discute o sentido e o destino da literatura de várias formas, através de vários personagens que personificam vários tipos de leitores e até mesmo escritores e editores. Além de abordar questões como o valor da literatura para a sociedade e a questão dos direitos autorais. Não raro nos perguntarmos ao longo do livro, que tipo de leitor eu sou? Qual minha relação com os livros? Há um tipo ideal de leitor? Há um tipo errado? O que é e qual sentido da literatura? Essas, pelo menos, foram as perguntas que me vieram a mente, mas a outros potenciais leitores dessa ótima obra, podem vir muitas outras.

“Se um viajante numa noite de inverno...” é um livro para leitores e mais ainda para amantes da literatura. Recomendadíssimo.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Os 40 anos de The Dark Side of The Moon


Em primeiro de março de 2013 completam-se os 40 anos de um dos mais icônicos discos da história do rock, há exatos 40 anos Roger Waters, David Gilmour, Richard Wright e Nick Manson mostravam ao mundo uma de suas maiores obras, o disco The Dark Side of The Moon.

No ano de 1973 o Pink Floyd não era nem uma bandinha desconhecida de garagem, era um banda famosa, com carreira consolidada e grana suficiente pra mover todo seu equipamento pro meio da cidade abandonada de Pompéia e lá fazer um show ao vivo para ninguém, mas foi com o Dark Side que eles deixaram de ser uma banda famosa para se tornarem um gigante que enchia estádios com show lendários e egocêntricos.

E tudo começou com a idéia de fazer um disco que abordasse as neuroses, medos e males que atormentam a vida do ser humano e de fato muitos deles estão lá: a loucura, o tempo, o medo da morte, a ganância, a guerra, o preconceito entre outros. Tudo isso embalado numa das capas mais icônicas da história, um prisma refletindo um raio de luz branca nas cores do arco Iris, obra do genial Storm Thorgerson o artista que mais soube representar em imagens os conceitos por traz da música do Pink Floyd.

Musicalmente é um trabalho sublime, é também o disco mais coletivo da carreira da banda, todos os músicos pareciam estar em sintonia, há um pouco de cada um em cada música que você escuta ao longo do álbum. Há rock, blues, gospel, jazz, música eletrônica, tudo isso bem misturado e bem dosado ao longo das músicas, além, é claro, da já conhecida psicodelia do Floyd e talvez tenha sido justamente essa mistura de elementos que torna esse um dos discos mais populares e mais acessíveis da banda, podendo ser apreciado tanto pelo fã ardoroso quanto pelo curioso ouvinte casual.

Quarenta anos se passaram e Dark Side ganhou um status de clássico do rock, diversas bandas e artistas fizeram suas próprias versões do disco e ele ainda hoje permanece entre os discos mais vendidos do mundo. Marcou também o último disco do Floyd como uma banda unida, a partir daí veríamos uma banda cada vez mais marcada pelo domínio de seu líder, o baixista Roger Waters e uma distância cada vez maior crescendo entre os integrantes. Tudo isso culminou numa segunda obra prima The Wall, que curiosamente tem entre seus diversos temas, o isolamento.

The Dark Side of The Moon é um legado para humanidade, uma obra que daqui a cem anos ainda será lembrada e ouvida por muitas e muitas gerações.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A Viagem Musical de Chico Chagas


Quem não foi, perdeu. É o que posso dizer sobre o show Piano do Solo do músico Chico Chagas, acreano, filho do sanfoneiro Chiquinho Arigó e residindo atualmente no Rio de Janeiro, Chico Chagas veio ao Acre com um repertório especial onde passa com tranqüilidade e segurança por diversos estilos musicais como a MPB, o Chorinho, a música pop internacional e o clássico.

Em duas horas de show o ouvinte viaja com o eco dos acordes e notas saídas do piano, passando por momentos suaves e contemplativos a momentos mais ritmados e enérgicos. Nessa viagem, alguns momentos se destacaram como a belíssima versão para música “Ao Chico” de Tião Natureza ou ainda a valsa Saudade de Mãe, composição de Chico Arigó que o música executou e a dedicou a seu pai que estava presente no recinto a música foi fechada com um tocante abraço entre pai e filho, momentos antes o músico aproveitara o momento para anunciar aos presente e a sua própria família que sua esposa estava grávida e que seu pais em breve seria avô, acrescentando ainda mais emoção para o momento. Em seguida veio uma versão para o clássico Somewhere Over The Rainbow eternizada pelo filme O Mágico de Oz, que o músico dedicou a sua esposa e a criança que ainda vai nascer.

Além desses momentos houve várias ótimas versões para canções de Milton Nascimento, Tom Jobim, Chick Corea, Ernesto Nazareth, uma execução impecável de Odeon, dentre outros. O encerramento do show foi com três composições próprias de Chico Chagas, Palácio que também é conhecida como Prelúdio, Gameleira, um dos momentos altos do show quando a platéia foi convidada a interagir com a música fazendo com os dedos o som das gotas de chuva caindo na terra, um momento fantástico onde o próprio ouvinte se sentia membro ativo na execução da melodia e por fim uma música de seu novo álbum com o título bem humorado de Um Chopin no Bach ouvindo Forró que fechou a noite com chave de ouro.

Com certeza um dos melhores shows que já freqüentei no acre e sem dúvidas, o melhor recital de piano! Quando Chico Chagas retornar ao Acre para nos brindar com uma apresentação dessas de altíssima qualidade, faça um favor para seus ouvidos e sua mente e vá.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Django, Bastardos e uma Puta Trilha Sonora



Um dos filmes mais comentados, resenhados e criticados desses últimos dias tem sido o último lançamento do famigerado Quentin Tarantino, Django Unchained (Django Livre), aliás, o filme tem sido alvo de moderadas críticas, inclusive, por parte dos fãs de Tarantino, principalmente quando compara este à obra anterior do diretor, Bastardos Inglórios. Num primeiro momento minha tendência foi gostar mais de Django que de Bastardo, por isso no fim de semana assisti-o novamente para fazer uma pequena comparação, qual não foi minha surpresa quando ainda assim, continuei gostando mais de Django, mesmo sendo o Bastardos um filme obviamente superior.

Bastardos tem um acabamento melhor onde duas histórias independentes são contadas concomitantemente no melhor estilo narrativo tarantinesco, ligadas apenas pelo divertido, sádico e por vezes assustador Coronel Hans Landa, não há pontas soltas no filme, não há cenas desnecessárias, enfim, não padece dos defeitos de Django. Este, por sua vez, é uma história simples, porém alongada, cheia de cenas e reviravoltas desnecessárias, as mesmas reclamações que muita gente fez ao Hobbit de Peter Jackson.

O que me cativou mesmo em Django e me fez cego a todos os seus evidente defeitos foi a trilha sonora. Um espetáculo. A melhor de um filme de Tarantino desde Kill Bill. Ouvi a trilha de Django antes de seu lançamento aqui no Brasil e percebo agora que já fui assistir ao filme amando-o pelas músicas que ouvi! Tarantino mistura as canções épicas de Ennio Morricone e Luis Bacalov com o Rap e o Country americanos criando uma coletânea fantástica de canções. E tal coletânea fica ainda mais soberba quando adicionada às imagens do filme criando o clima perfeito para o espectador, desde o contemplativo das montanhas e vales até o eufórico dos tiroteios.

Tarantino pode ter errado a mão em diversos pontos do filme, mas, assim como em Kill Bill, que padece de muitos vícios similares a Django, ele acertou em cheio na escolha das canções. A Trilha Sonora de Django é uma obra a parte, ela é fantástica tanto dentro do filme quanto ouvida em separado! Ela, ainda mais que o filme, é uma verdadeira e digna homenagem ao faroeste italiano. Ouça-a!

P.S. não abordei aqui a questão das excelente atuações de Django ou ainda da polêmica envolvendo seu tratamento a um tema tão polêmico quanto o racismo nos EUA, mas há farta e ótimas críticas na internet abordando essas questões, por isso vou me eximir de falar sobre isso aqui!

Gildson Góes