_ Mah rapá Seu Ruivo. - falou Raimundo. - Tu tava era muito do seu enganado ta sabendo, o Seu Francisco é gente fina. Fiou a noite toda pra nóis.
_ Num é. Aquilo é homem com coração de ouro. - falou Antonio.
_ Coração grande que não cabe no peito. Tão generoso nunca vi. - falou Tião.
_ E quando os senhores pensam em pagar? - perguntou o Ruivo. - Afinal de contas, fiado não é dado, e aí?
_ Ora, pois no fim do mês o dinheiro todo estará nas mão do Francisco, num é não? - falou Raimundo.
_ É mermo. - falou Antonio.
_ Pois num é. - falou Tião.
Ora, a semente maligna do ruivo já estava lançada. Ninguém distribuiria cerveja no seu monopólio, e se ele era visto como ambicioso e mão de vaca e Seu Francisco como generoso e mão aberta, pois então ele mostraria como mão aberta de seu Antônio o levaria a queda.
Naquela noite o próprio ruivo foi à Choperia de O Ciclista Bêbado e durante toda noite bebeu fiado.
_ Deixe estar seu Ruivo, bem sei que seu boteco anda meio ruim de freguesia, acho até que tem um pouco de culpa minha nisso, por isso, o senhor bebe e fiado e fiado com desconto.
_ Os boatos não mentem Seu Francisco, o Senhor tem o coração de ouro, quase não cabe nesse peito.
No dia seguinte Seu Ruivo colocou em prática a segunda parte de seu maligno plano, e na noite do dia seguinte, todo o ouvido que possuia a capacidade de escutar em Parado sabia do coração de ouro de Seu Francisco, e naquela noite todo mundo resolveu economizar algumas notinhas para feira do fim de semana, ou para aquelas compras na cidade, e tantos outros gastos extremamentes necessários.
O pobre Seu Francisco, cuja maior qualidade era também seu maior defeito, não sabia dizer não e tão compreensivel era, compreendia cada uma daquelas compras e ainda por cima entendia a grande necessidade que era a cervejinha para tirar o stress da cansativa vida da cidade.
E assim continuou, a necessidade econômicas aumentando e aumentando, e Seu Francisco sempre sorrindo, sempre complacente ia concendendo, só mais um dia de fiado, que mal havia.
Todos os dias o velho, ambicioso e mal amado ruivo bebia solitário sentado à frente de seu boteco, sempre rindo, as vezes até gargalhando sozinho. Seu plano funcionava às mil maravilhas, não poderia ser melhor.
E realmente só não foi melhor por falta de gente na cidade. Ao fim do mês cada habitante daquela cidade devia à Seu Francisco um quantia exorbitante de dinheiro, e como Seu Francisco já não mais recebia à noite, não teve mais como pagar a bebida e logo começou a faltar, a Tv por assinatura foi cortada, junto com a luz já que a conta não tinha sido paga. Logo depois cortaram a água também. E Seu Francisco decidiu, tristonho e choroso, declarar o fim de seu empreendimento.
_ Acontece Seu Francisco, essas coisas de bar tem que se ter coração forte. - falou o Ruivo, quando Seu Francisco apareceu em seu boteco e gastou tudo o que lhe tinha sobrado no maior porre da sua vida.
Continua...
onde esses personagens encontraram seu fim.
Gildson Góes.
2 comentários:
Hahahahahha...
Muito bom. O Seu Ruivo, sem dúvidas, leu "O Príncipe" de Maquiavel. Muito bom! x)
O interessante é, que apesar de já ter lido O Príncipe, essa portentosa obra nem mesmo me passou pela cabeça durante a redação do conto.
Serei eu um gênio literário?
De qualquer forma, é mais um passo rumo à superação de Machado de Assis.
\o/
Gildson Góes
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