Pular para o conteúdo principal

40 anos do porco voador


Animals, décimo álbum do Pink Floyd, foi lançado no dia de hoje, 23 de janeiro, há exatos quarenta anos. A banda já tinha lançado dois discos marcantes "The Dark Side of The Moon" e "Whis You Where Here" que catapultaram a banda de mais um grupo de progressivo para fenômenos pop. Verdadeira máquina de lotar estádios e fazer dinheiro. 

Foi a partir de Dark Side que as letras de Roger Waters começaram a se tornar cada vez mais ácidas, processo que continuou em Whish... tornando-se, em Animals, também politizadas. O álbum, conceitual assim como seus antecessores, baseia-se livremente no livro de George Orwell, "Animal Farm" (A Revolução dos Bichos). Assim como Orwell fez uma metáfora da Revolução Russa usando animais, Waters faz uma metáfora da sua sociedade dividindo-a em cães, porcos e ovelhas. "Dogs" representando os homens da lei, "Pigs (Three Different Ones)" os políticos corruptos e "Sheeps" o povo sem pensamento próprio seguindo o líder. 

Musicalmente o disco oferece uma sonoridade mais enxuta, embora o disco seja basicamente composto de três longas canções mais uma curta e acústica introdução e encerramento. Há um peso maior nas canções e uma grande dose de ironia em cada uma, cortesia da vocalização de Roger Waters que exala sarcasmo no seu modo de cantar, ele canta em todas as canções do disco, Gilmour apenas canta a primeira parte de Dogs, de voz mais suave e melodiosa, faz com que o início de Dogs seja a única parte do disco que lembra a beleza onírica dos discos anteriores. Não que isso seja ruim, sendo a proposta de "Animals" ser uma paródia da sociedade britânica dos anos 70, o estilo de Waters cai como uma luva.

Outra característica interessante desse disco foi a notável redução da participação dos demais membros da banda. Waters é quem compôs a maior parte do disco e seu estilo claramente domina as canções, Gilmour divide com ele a composição de Dogs, mas só. Richard Wright não compôs nada para esse disco, isso apesar seu teclado ter destaque em diversos momentos do álbum, Nick Manson já não costumava compor muito na banda, mas sua bateria lenta e ritmada também é um ponto marcante do Floyd.

O relacionamento entre os membros do Pink Floyd já não andava bem no período de Animals e só pioraria causando o desmantelamento da banda na década de 80. Waters nesse período começou a acreditar que era o único grande compositor da banda e que era ele que a carregava nas costas, logo começou a querer se impor cada vez mais sobre seus colegas. Durante a turnê de Animals, irritado com um fã, Waters lhe cuspiria na cara, situação que o levou a imaginar um muro separando a banda do público. Essa ideia, somada a seus diversos traumas de infância, mas sua pose ditatorial sobre os rumos do Floyd culminariam num clássico chamado "The Wall", para o qual Animals funciona como uma forma de preparação, um ponto de ruptura do Pink Floyd a banda para o Pink Floyd de Waters. 

Obviamente a banda não sustentaria muito depois disso, e jamais seria a mesma depois, deve ser o preço que se paga por gerar tantas obras primas, mas estou me adiantando, a questão é que toda essa crise começou em Animals, ouça!



Caso alguém tenha se perguntado: por que porco voador no título, a foto que ilustra essa matéria e da estação termelétrica Battersea em Londres, a banda encomendou um porco gigante inflado a hélio pra ficar flutuando sobre a estação enquanto a equipe de fotógrafos registrava vários ângulos da imagem. Ocorreu que o porco se soltou dos cabos que o seguravam e saiu flutuando, mais tarde chegou a ser recuperado, mas no final das contas usaram um foto sem o porco e colaram a imagem por cima para a capa.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

📚 Resenha do Livro Contos Clássicos de Terror – Antologia Assustadora e Imperdível

  Lançado pela renomada Companhia das Letras e organizado por Julio Jeha , o livro Contos Clássicos de Terror reúne dezenove histórias de terror e mistério que vão do gótico ao psicológico , mesclando autores consagrados da literatura mundial com grandes nomes da literatura latino-americana e brasileira. Da genialidade de Stephen King à sutileza sombria de Machado de Assis , essa antologia é uma verdadeira viagem pelos caminhos mais sombrios da mente humana. 🕯️ Clássicos que Marcam Presença Ainda no ínício temos o impactante O Barril de Amontillado , de Edgar Allan Poe . Considerado um dos contos de vingança mais famosos da literatura, a história mostra que há destinos muito piores do que a morte — uma lição macabra sobre orgulho e crueldade. Em seguida, o leitor é surpreendido por A Causa Secreta , de Machado de Assis . Embora o autor brasileiro não seja tradicionalmente associado ao gênero de terror, aqui ele entrega um suspense psicológico brilhante , revelando como a ...

Tiffany Poon e “O Cisne”, de Camille Saint-Saëns: quando a música clássica encontra a natureza

Foto: Instagram Próxima do lançamento de seu novo álbum Nature , a pianista clássica Tiffany Poon divulgou hoje mais um vídeo promocional — desta vez interpretando a belíssima peça O Cisne , do compositor francês Camille Saint-Saëns . Essa composição é a décima terceira parte de uma obra maior chamada O Carnaval dos Animais , e se tornou a mais conhecida entre as quatorze peças que compõem o ciclo. “O Cisne” é uma excelente porta de entrada para quem deseja se aproximar do universo da música clássica europeia , especialmente da música clássica francesa . Com uma melodia suave , ritmo tranquilo e harmonias delicadas, a peça convida o ouvinte a imaginar o cisne do título deslizando serenamente sobre as águas calmas de um lago. A natureza como palco para a música clássica No novo vídeo, Tiffany Poon rompe com o formato tradicional dos concertos gravados em salões e leva a música para um ambiente natural, onde a água é o elemento central . O cenário dialoga diretamente com a obr...

Crise no Transporte Público de Rio Branco: Mobilização Social e o Direito à Cidade

Foto: Leandro Chaves Na manhã de segunda-feira, 20 de outubro , movimentos sociais e estudantis de Rio Branco (AC) realizaram um ato de protesto no Terminal Urbano da Capital , principal ponto de embarque e desembarque de passageiros da cidade. A manifestação denunciou a grave crise no transporte público que há anos afeta a população rio-branquense. Os manifestantes criticaram a má qualidade do serviço : ônibus sucateados , quebras constantes , atrasos frequentes , poucas viaturas — o que causa superlotação — e ausência de climatização , tornando as viagens desconfortáveis sob o calor intenso. Apesar disso, milhões de reais são repassados à empresa Ricco , única concessionária do transporte urbano de Rio Branco. A contratação da empresa, feita por meio de um edital emergencial , vem sendo prorrogada há anos, sem nova licitação pública. Uma Luta por Direitos e Dignidade Mais do que uma reivindicação por ônibus melhores, o movimento representa uma luta por direitos fundam...