sexta-feira, 8 de junho de 2018

PREQUELLE - Ghost se entrega ao pop e lança seu melhor disco até agora

Não é de hoje que tenho achado o Ghost um dos melhores acontecimentos no rock mundial. A banda surgiu ao mundo macabra, envolta em panos pretos, corpse paint, simbologia satânica e letras sinistras, mas quando o som começava a tocar, que surpresa, não era o peso e a brutalidade que se esperava, ele era suave, grudento, retrô, pop. Essa dicotomia entre visual e som marcou o Ghost no início de sua carreira, conquistou muitos e afastou outros tantos. As celebridades do rock pareceram abraçar a causa da banda, assim como o mundo da música.

Toda a aura fúnebre emanada por Papa Emeritus e seu séquito misterioso de músicos que jamais revelavam suas identidades, os Nameless Ghouls, não demorou muito pra desvanecer. O satanismo do Ghost era uma piada e assim a banda o tratava, assim a aura de mistério foi dando lugar a um humor despojado. Papa Emeritus Segundo começou a aparecer sem maquiagem em Las Vegas, acompanhado de modelos e lançando sua própria linha de brinquedos sexuais. Papa Emeritus Terceiro abandou a batina e mitra por um terno mais leve e uma basta peruca, começando a se apresentar menos como  membro de um clero satânico e mais como um pregador evangélico. Agora, temos Cardinal Cópia, não é um papa, é aspirante, chega aí jovial, vestido numa jaquetinha de couro reluzente e gingado sexy, promete revolucionar.

A banda parece ter uma visão musical muito bem definida, no primeiro disco pesou no hard rock setentista e trouxe a memória nomes como Blue Öyster Cult e Mercyful Fate, no segundo focou na produção, trazendo corais, orquestrações e um foco no rock progressivo, o terceiro disco focou no peso e agora, chegando ao seu quarto disco, a banda abraça uma vertente que vinha dando sinais desde seu primeiro disco, o pop. 

Prequelle ainda é um disco de rock, talvez até mesmo tenha algo de metal, mas é inegavelmente um disco pop, músicas como "Rats" e "Dance Macabre" estão aí pra comprovar, ambas são os carros chefes do disco, feitas pra ficarem grudadas na sua mente, quer você goste delas ou não (eu adorei as duas aliás), sendo que a segunda tem um ritmo irresistivelmente dançante pra combinar com seu nome. O metal NWOBHM bem retrô dá as caras em "Faith" e num breve riff de guitarra de "Rats" também. "Pro Memória" cumpre a cota de baladas que misturam o macabro da letra com a beleza da música. "See The Light" é um canção pensada pra grandes platéias, inclusive com deixas para o público cantar junto.  "Witch Image" tem um refrão excelente, grudento (você vai se perceber querendo cantar junto), só tem um pouco de trabalho de se destacar dentre um desfile já tão bom de canções.

Dentre essa já respeitável playlist existem ainda duas pérolas. "Miasma" e "Helvetesfonster", duas tour de force instrumentais onde a banda dá vazão a todo seu potencial progressivo, mas sem exageros. A primeira, mais pesada, conta com um rock'n roll de primeira que evolui num crescendo e cumina num surpreendente solo de saxofone. A segunda, mais intimista, busca sua beleza na melodia e harmonização dos instrumentos elétricos com os acústicos.

"Life Eternal" é uma musica breve com vocais grandiosos, mas vai baixando o tom para fechar o disco com suavidade, daquelas canções que não deixam dúvidas que a viagem musical chegou ao fim, mas sempre com aquele gostinho de quero mais.

Acho que musicalmente a banda nunca esteve tão bem. NWOBHM, Prog Rock, Pop, percebe-se que é vasta a gama de influências donde a banda busca inspiração para suas canções. Cada vez mais determinada em se tornar um fenômeno pop, mas sustentado por ótimas composições. Prequelle demonstra que o Ghost veio aí pra ficar!
Caso você esteja se perguntando: onde diabos eu vi essa capa antes?
Ta aí