Esta terra acreana já viu muita crueldade em sua história. Muito sangue foi e ainda é derramado por aqui. As histórias dessas crueldades, muitas delas, se perderam no tempo, no sofrimento e dizimação dos povos que aqui viviam e foram esquecidos. Outras histórias marcaram tão profundamente a população de sua época que extrapolam seu tempo e seguem vivas na memória da população ganhando o contorno de lendas. Uma dessas histórias foi, certamente, a da professora Rosalina da Silveira.
Rosalina viveu nessas terras na primeira metade do século XX, morava próxima ao que hoje é o prédio do Colégio de Aplicação e dava aulas na escola que ficava onde hoje é o Palácio das Secretarias. No caminho entre a casa e o trabalho ela tinha que passar pelo prédio da atual prefeitura da capital, porém na época o que funcionava alí era um presídio. Um presidío com janelas para a rua, através das quais era possível aos presos ver o movimento dos transeuntes e foi através dessas janelas que um preso de nome Lázaro, que desenvolveu uma paixão obssessiva pela professora. Mas esse sentimento não era correspondido pela moça, de fato, Rosalina, até o fatídico dia, jamais soube dos sentimentos de seu observador ou sequer de sua existência.
Num fatídico dia de 1941, Lazáro, pulando o muro do presídio ou fugindo durante a prestação de um serviço público ao qual os presos eram obrigados na época, foi encontrar-se com Rosalina enquanto estava indo para o trabalho e alí, no meio da rua, a esfaqueou até a morte. Diz-se que de ciúmes, pois a moça estava noiva de um militar da aeronáutica. Outras versões dizem que a trama era um pouco mais complexa que isso.
Essa trágica história é contada em seus detalhes no livro Rosalina, meu amor do escritor, poeta e jornalista acreano Antônio Stélio. A história aqui é contada em forma de novela onde o autor buscar elucidar o mistério dessa história. Aqui não se trata do quem matou, mas do por que matou. Algoz e vítima nunca tiveram um contato sequer, como então apenas olhadelas pela janela gerariam sentimento tão forte e poderosos num pessoa a ponto de matar a outra. É nesse ponto que entra na história Praxedes um jornalista que também seria apaixonado por Rosalina e rejeitado por ela o que dá a história traços ainda mais dramáticos uma vez que envolve ciúmes e vingança. Entretanto, apesar dos traços shakesperianos dessa história o novelista não consegue dominar totalmente o jornalista o que faz da escrita do livro muito direta, descritiva e remissiva a documentos formais e históricos como o inquérito elaborado sobre o caso.
Muito bem escrito e desenvolvido o livro é uma novelização de um fato histórico da cidade de Rio Branco. Todos os dias centenas, talvez já possamos dizer milhares de pessoas trafegam sobre o solo onde a histórica aconteceu e livros como Rosalina, meu amor não nos deixam esquecer da nossa história.
No início do texto, referi que algumas histórias ganham contorno de lendas, bem, dada sua morte trágica e violenta em uma idade tão jovem, Rosalina, que foi enterrada no nosso tradicional cemitério São João Batista, ganhou status de santa popular. Tradicionalmente pessoas procuram seu túmulo para fazerem pedidos ou simplesmente para prestarem homenagens, mesmo tantos anos após sua morte, mesmo sem sequer terem-na conhecido ou sua família, que se mudou do estado. A jovem professora foi alçada à alma milagreira devido a seu sofrimento em vida.
A prisão foi fechada tempos depois, transformada num hotel e depois na sede da Prefeitura de Rio Branco. A casa de Rosalina não se sabe onde era. O grupo escolar 7 onde ela lecionava hoje é o Palácio das Secretarias onde funcionam as secretarias de planejamento, administração e justiça, também é onde eu trabalho hoje em dia. Os fatos vivaram história e habitam hoje no imaginário desta terra.
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