Pular para o conteúdo principal

Música feita de sons e silêncios ou minha homenagem a Leonard Cohen

Leonard Cohen 1934 - 2016
A primeira vez que ouvi a música de Leonard Cohen foi num domingo de manhã, era cedo, estava nos meus afazeres matinais, preparar café, regar plantas, essas coisas... e geralmente gosto de fazer isso ouvindo música, nesse em dia em particular, abri meu aplicativo de streaming e decido ouvir algo que nunca tinha ouvido antes,  um disco de Leonard Cohen, cantor de quem já tinha ouvido falar, mas nunca tinha escutado. Ouvi o disco Can't Forget: A souvenir of the Grand Tour, disco ao vivo de 2015 com registro de vários shows sua última turnê. Ao final da audição, óbvio eu já amava o disco, automaticamente, já tinha virado admirador do músico e por fim, me recriminei por ter demorado tanto tempo para conhecer o trabalho do cantor.

Isso não aconteceu há muito tempo, foi nesse ano, na verdade, faz poucos meses. Conheci Cohen já aos 45 do segundo tempo de sua vida, de lá pra cá já dei uma boa vasculhada na discografia do cara, facilidades da internet, a pesquisa, obviamente, corroborou a premissa inicial, eu adoro a música de Leonard Cohen. Mas por que gostei tanto dessa música? Não sei, acho difícil dizer o que me faz gostar tanto de determinada música. Nesse caso específico, creio que foi a voz marcante de Cohen, grave, forte, seu estilo meio cantado, meio recitado de suas letras, o bom gosto harmônico de suas canções, o minimalismo nas composições, mas a principal característica que identifiquei na sua música, o uso do silêncio.

Canções são compostas por sons, óbvio, existem aquelas construídas em camadas e camadas de sons que se sobrepõem, sem parar até o final, sem espaços vazios, sem silêncios, mas existe outro tipo de canções que usam o próprio silêncio em sua composição. Nesse tipo o que não se ouve é tão importante quanto o que se ouve, o silêncio é tão importante quanto a canção, talvez porque o silêncio ressalte a beleza da harmonia que está sendo executada, o silêncio aqui serve como um foco, que não nos deixa perdidos num mar de sons, mas nos orienta e guia através aquela determinada harmonia que está sendo executada, ressaltando sua beleza.

Trago um exemplo para ilustrar minha reflexão, existe uma composição do King Crimson chamada Trio presente no disco Starless and Bible Black, que foi gravada num improviso de melotron, baixo e violino ao vivo, a música está creditada aos três membros, que efetivamente tocam na composição, mais Bill Bruford, o baterista, embora não haja bateria ou qualquer tipo de percussão na música, entretanto a banda considerou que sua decisão de não tocar foi crucial para o resultado final da composição, logo, o silêncio da bateria foi tão importante quanto os sons dos demais instrumentos.

Música feita de sons e silêncios, assim vejo a obra de Leonard Cohen. Em 94 ele foi ordenado monge budista e segundo li recebeu o nome Dharma de Jikan, que quer dizer "silencioso", muito apropriado, se isso for verdade.

Falando em silêncio, o homem faleceu ontem, dia 10 de novembro de 2016. Ontem o homem silenciou para sempre,  não sem antes deixar mais um disco You Want it Darker, escute-o e veja, lá estão os sons e os silêncios que Cohen deixou de presente pra nós.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Agente Secreto de Kleber Mendonça Filho - Um filme sobre cinema e memórias.

O Favorito para o Oscar O Agente Secreto é o mais novo filme de Kleber Mendonça Filho e o atual favorito brasileiro na corrida para o Oscar 2026 — uma corrida que já começa animada com a vitória, no concurso anterior, do filme brasileiro Ainda Estou Aqui , vencedor do prêmio de Melhor Filme Estrangeiro. É complicado fazer uma sinopse de O Agente Secreto sem entregar a história, porque ela vai sendo revelada em camadas ao longo do filme. Marcelo, personagem de Wagner Moura, é o protagonista da película. Ele chega ao Recife para ver o filho e fica hospedado no edifício de Dona Sebastiana. Tem um encontro marcado no Instituto de Identificação de Recife, onde há uma promessa de trabalho. Isso é o suficiente para, a partir daí, construir o mistério em torno desse homem que claramente está fugindo. A narrativa se passa nos anos 70 e tem como plano de fundo a ditadura empresarial-militar brasileira. Embora a ditadura em si não seja o centro da história, ela é parte integrante do cenário ...

Resenha: A Estrada da Noite, de Joe Hill – Um terror sobrenatural e visceral

Com a estreia de O Telefone Preto 2 nos cinemas, me lembrei do autor da história original, Joe Hill , e do meu primeiro contato com sua obra: o livro A Estrada da Noite ( Heart-Shaped Box , no original). Filho do lendário Stephen King , Hill mostra neste romance que o talento para o terror é, de fato, hereditário — mas com uma voz e estilo próprios que o diferenciam completamente do pai. Um astro do rock e um paletó assombrado A trama acompanha Judas Coyne , um ex-astro do rock pesado que vive recluso em uma fazenda, longe das turnês, drogas e da fama. Com um gosto peculiar por objetos macabros — como livros de receitas para canibais e fitas com assassinatos reais —, Jude leva uma vida excêntrica até decidir comprar, em um leilão online, um paletó “assombrado” pelo espírito do antigo dono, Craddock McDermott . O que parecia uma simples brincadeira mórbida se transforma em um verdadeiro pesadelo. O fantasma de Craddock passa a atormentar Jude com aparições assustadoras, um cheiro ...

🎵 Rick Wakeman lança “Melancholia”: um tributo instrumental à introspecção

  Para os amantes do rock progressivo , o nome Rick Wakeman dispensa apresentações. Lenda viva do gênero e tecladista da formação clássica do Yes , Wakeman também colaborou com ícones como David Bowie e Black Sabbath , além de construir uma carreira solo brilhante e prolífica . No dia 17 de outubro , o músico britânico lançou seu mais novo álbum: “Melancholia” , uma obra instrumental tocada inteiramente ao piano. O disco completa uma trilogia iniciada com Piano Portraits (2017) e seguida por Piano Odyssey (2018) . Segundo o próprio artista, trata-se de “uma suíte profundamente coesa, escrita de forma intuitiva e depois moldada em parceria com o produtor Erik Jordan” . Gravado em um piano clássico Steinway Modelo D , o álbum transmite uma atmosfera intimista e emocional, convidando o ouvinte a uma jornada de reflexão e serenidade. 💭 O significado de “Melancholia” segundo Rick Wakeman Em um vídeo de apresentação, Wakeman explica que a melancolia é um sentimento muitas vezes...